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Francesa estuprada e dopada pelo pai na infância fala sobre abusos após caso Pélicot: ‘Achava que eu merecia’

Anne, de 63 anos, não teve coragem de denunciar o pai por décadas, mas agora espera que prazo de 20 anos para denúncias de estupro seja abolido na França para poder abrir uma ação judicial contra ele: ‘Espero que esteja com medo’. Francesa estuprada e dopada pelo pai na infância fala sobre abusos após caso Pélicot
Com a repercussão do caso Pélicot e a coragem da vítima, Giséle, de fazer um julgamento aberto expondo os abusos que sofreu nas mãos do marido e outros 50 homens, muitas vítimas da chamada submissão química acabaram vindo a público na França.
Anne, de 63 anos, é uma delas e contou ao canal de notícias da emissora alemã Deutsche Welle sobre os abusos que sofreu na infância. Quando criança, ela foi dopada e estuprada por seu próprio pai e outros homens durante anos.
“Você se sente constantemente em perigo, como se estivesse enlouquecendo. Para uma criança, sua família é seu mundo. Sempre achei que fosse minha culpa. Achava que eu merecia. Diversas vezes tentei tirar minha própria vida”, lamenta.
Motivada pela força de Giséle Pélicot, Anne, que não teve coragem de denunciar o pai por décadas, agora espera que o prazo de 20 anos para denúncias de estupro seja abolido na França para poder abrir uma ação judicial contra ele.
O caso Pélicot levou o governo francês a criar uma comissão parlamentar sobre submissão química, a fim de propor emendas à lei e reavaliar leis sobre o tema.
“Espero que meu pai esteja com medo. Quero que ele veja que os tempos estão mudando”, afirma.
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Gisèle Pelicot compareceu a quase todas as audiências do julgamento iniciado em setembro
Reuter
Nesta segunda-feira, durante o último dia de julgamento, Dominique Pelicot, ex-marido de Giséle e principal réu do processo, fez suas últimas declarações antes da sentença, prevista para quinta-feira (19).
Acusado de drogar a ex-esposa por uma década para estuprá-la com estranhos recrutados na internet, ele disse que gostaria de “saudar a coragem” dela e também pediu à família que aceitasse um pedido de perdão por tê-la feito sofrer.
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Desde o início, em 2 de setembro, o julgamento tem chamado a atenção em todo o mundo principalmente devido à recusa de Gisèle Pelicot em realizá-lo a portas fechadas e ao seu apoio à divulgação das imagens dos estupros, sintetizado na frase “que a vergonha mude de lado”.
O agora ex-marido dela, contra quem a acusação pediu a pena máxima de 20 anos de prisão, é acusado de drogar Gisèle para que ela dormisse e, em seguida, permitir que fosse estuprada por estranhos entre 2011 e 2020.
Ele nunca negou as acusações. Nesta segunda-feira, afirmou novamente que contou toda a verdade.
“Todos aqui, apesar da presunção de inocência, são culpados, assim como eu”, disse Dominique Pelicot nesta segunda-feira.
Mais 50 acusados
Dominique Pélicot compareceu ao tribunal nesta quarta, visivelmente fraco
Benoit PEYRUCQ / AFP
A maioria dos outros 50 réus também é acusada de estupro agravado. A promotoria pediu entre 10 e 18 anos de prisão para 49 investigados.
Dominique Pelicot pediu desculpas novamente à parceira de Jean-Pierre Maréchal, o único acusado que não agrediu Gisèle Pelicot. Maréchal é alvo de um inquérito por abusar da própria esposa, que também foi estuprada várias vezes por Dominique.
Em seguida falou Maréchal, que reconheceu os atos dos quais foi acusado. “Julgue-me pelo que fiz e pelo que sou”, pediu.
Depois foi a vez dos demais. A maioria não quis testemunhar, embora alguns tenham se mostrado gratos pelo julgamento e pelo trabalho de seus advogados. Outros ainda reiteraram suas desculpas à vítima.
Houve também aqueles que insistiram em negar os fatos, apesar dos milhares de fotos e vídeos tirados por Dominique Pelicot enquanto os crimes eram cometidos. Essas provas fundamentais no julgamento. “Eu não sou um estuprador”, disse um deles.
Depois que todos os 51 réus tiveram a oportunidade de se dirigir à sala de audiências, o presidente do tribunal em Avignon, no sudeste da França, concluiu a curta sessão para o início da deliberação.
O veredito é esperado para esta quinta-feira, após três meses e meio de audiências.
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Fonte: G1

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