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Lula: é hora de gritar “Impeachment já!” ou de deixar sangrar?

Hoje acordei me perguntando sobre o que escreveria nesta que é a penúltima carta do ano. Queria falar de coisas triviais, como o prazer de comer um pão quentinho pela manhã. A manteiga derretendo e tal. Ou então rememorar o coaxar das rãs nos banhados do Bairro Alto. Mas eis-me aqui escrevendo sobre essa palavrinha em inglês que parece ter caído no gosto do brasileiro: impeachment (ou “impítima”). E do Lula, ainda por cima.

Os culpados por isso são dois: o deputado Nikolas Ferreira e o senador Flávio Bolsonaro. O primeiro por ter postado no Twitter uma enquete perguntando se os seguidores dele eram a favor do impeachment ou de “deixar sangrar”, isto é, permitir que Lula cause uma ruína econômica e social enorme e que torne inviáveis tanto a reeleição quanto o discurso populista da esquerda. Da última vez que vi a enquete, ela tinha mais de 32 mil votos e uma divisão perfeita entre as duas opções.

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Cansaço e mais cansaço

Ao ver a enquete do deputado dos cabelos desregrados, reagi com uma mistura de cansaço e mais cansaço ainda. Desculpe. É que realmente não sei se tenho energia para mais um desgastante processo de impeachment e principalmente para combater a tradicional narrativa de que tudo faz parte de um golpe fascista e neoliberal da extrema direita. Haja! De modo que deixei o assunto para lá e fui tratar de caçar a fugidia inspiração que me alimenta.

NÃO SE ESQUEÇA DE RESPONDER À ENQUETE NO FINAL DO TEXTO!

Movimentações

E te garanto: você provavelmente estaria lendo agora um texto sobre a “Ladainha da Humildade”, oração que mudou a minha vida em 2024; ou um texto sobre a Catota, que anda sumida deste espaço; ou ainda uma reflexão sobre a alegria (sim, alegria!) que é ler Jorge Amado e suas descrições de um Brasil colorido, rico e realmente diverso que já não existe mais. Mas aí o senador Flávio Bolsonaro deu uma entrevista e falou que existem movimentações pelo impeachment de Lula na Câmara e no Senado.

Sou contra

Resultado: aqui estou eu, nos estertores de 2024, escrevendo sobre essa improbabilidade (mas não impossibilidade) que, tenho certeza, faz os olhinhos de muita gente brilhar. Os seus, talvez? E me expondo à execração pública, porque posso até mudar de ideia, mas neste momento sou contra o impeachment de Lula. Por vários motivos e o principal deles é que, de uma vez por todas, o brasileiro tem que enfrentar as consequências de suas escolhas.

O campo de batalha sou eu

Mas entendo se você discordar de mim, porque outro assunto que tem tirado meu sono (modo de falar) é a nossa tendência de usarmos a política para nos distrairmos de nossos dilemas interiores. Vou aproveitar as vindouras férias para pensar melhor no assunto, mas tenho a impressão de que é isso o que explica a rejeição do leitor a textos que tratam daquilo que acontece na casa, na rua e principalmente no coração. E, nesse sentido, não há como negar: um processo de impeachment serviria para, mais uma vez, ignorarmos a incômoda verdade de que o campo de batalha da guerra cultural e ideológica somos nós.

Frágil e vulnerável

Fico por aqui desejando que este Natal seja um momento de reflexão profunda não sobre a política e a economia ou o autoritarismo progressista, e sim sobre o papel de cada um de nós neste mundão caótico em que vivemos. Espero ainda que você não perca jamais a esperança e que não caia na armadilha de depositá-la em políticos, partidos ou correntes ideológicas. Olha lá, hein! Porque a esperança é uma só e nasce frágil e vulnerável numa simples manjedoura.

Um abraço natalino do
Paulo.

Enquete

[Esta coluna é uma reprodução da carta que chega à caixa postal dos assinantes toda sexta-feira. Se você ainda não se inscreveu, lá em cima, logo depois do primeiro parágrafo, tem um campo para isso].

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