A Marinha dos Estados Unidos já gastou quase US$ 1 bilhão só em munição de seus navios contra mísseis e drones lançados pelos rebeldes houthis do Iêmen no teatro de operações do mar Vermelho.
A revelação foi feita pelo almirante Brendan McLane, comandante das forças de superfície dos EUA, durante uma palestra na terça (14). Ele não fez a estimativa em custo financeiro, mas detalhou quantas munições individuais foram empregadas na guerra desde outubro de 2023.
Os houthis, que desde 2014 dominam a capital e a porção leste do Iêmen, entraram no conflito iniciado quando o grupo terrorista Hamas lançou seu mega-ataque contra Israel, no dia 7 daquele mês em apoio aos palestinos, bancados assim como eles pelo Irã.
Não está claro se eles continuarão suas ações se o cessar-fogo acertado entre Israel e o Hamas na quarta (15) realmente entrar em vigor no domingo (19) —o premiê Binyamin Netanyahu colocou o arranjo em dúvida nesta quinta (16).
Em nota, eles saudaram o acordo com uma “vitória da resistência” contra o Estado judeu, mas disseram que a “ocupação da Palestina continua a ser uma ameaça à estabilidade e à segurança da região”. Houve celebrações em Sanaa, a capital do Iêmen ocupada pelos rebeldes.
Eles alvejam principalmente navios mercantes ligados a Israel e seus aliados, como os EUA. A disrupção no tráfego marítimo mundial foi enorme, com aumento de custo por desvio de rotas e seguros —hoje, o valor do frete de contêineres está quatro vezes acima do registrado antes do conflito.
Além disso, têm disparado cada vez mais drones e mísseis contra Israel, inclusive modelos alegadamente hipersônicos como o que atingiu a região de Tel Aviv na semana passada. Americanos, britânicos e outros deslocaram forças para o mar Vermelho, visando coibir tal atividade.
McLane, em palestra na Associação da Marinha de Superfície (EUA) relatada pelo site The War Zone, colocou em números a conta americana do jogo. Segundo ele, foram 120 mísseis SM-2, 80 SM-6, 20 lançamentos combinados dos modelos SM-3 e Evolved Sea Sparrow, além de 160 tiros de canhões navais de 127 mm.
A partir desse dado, é possível fazer uma conta de padeiro, que coloca os gastos entre qualquer coisa de US$ 760 milhões (cerca de R$ 4,5 bilhões) e US$ 1 bilhão (R$ 6 bilhões), a depender de algo não detalhado, que foi o modelo e a quantidade de mísseis SM-3 usados.
Essas armas são únicas e caríssimas, empregadas para interceptar mísseis balísticos em plena trajetória hipersônica. McLane não especificou quando elas foram disparadas, mas é certo que tenham também participado da tentativa de barrar os dois ataques dos patronos dos houthis, o Irã, contra Israel no ano passado.
Em sua versão mais avançada, o armamento custa até US$ 28 milhões (R$ 168 milhões) a unidade. A conta aqui apresentada considera dez disparos desse modelo e outros dez, do Sea Sparrow, que custa US$ 1,8 milhão (R$ 10,8 milhões) cada um.
Mesmo o tiro mais barato, dado por canhão, não é exatamente uma barganha. O modelo MK-45 usado nos destróieres americanos usa balas convencionais para alvos de superfície, que custam centenas de dólares, mas para atingir drones precisam empregar munição de alta velocidade. Mais precisas, elas saem por até US$ 100 mil (R$ 600 mil) a peça.
Seja como for, são valores expressivos nesses 380 disparos ao todo: o Brasil teve, em média desde 2021, pouco mais de R$ 8 bilhões para investir em equipamentos de todas as suas forças a cada ano.
E a estimativa é conservadora, pois não conta o custo de operação dos navios ou a ação de caças embarcados em porta-aviões, por exemplo.
A hora-voo de um F/A-18 Super Hornet, avião de ataque padrão da Marinha enquanto não chegam todos os novos F-35, custa segundo o Escritório de Prestação de Contas Governamentais dos EUA US$ 30,4 mil (R$ 182,4 mil). Isso sem contar as armas que disparou.
No ano passado, o secretário da Marinha americana, Carlos del Toro, queixou-se dos custos crescentes no mar Vermelho e pediu mais dinheiro ao Congresso.
Lembrando que o futuro da guerra dos EUA está no Pacífico, teatro em que um conflito com a emergente China está em dez dos dez cenários militares americanos, ele disse que só em munição já havia gasto quase US$ 1 bilhão —isso em depoimento no mês de abril de 2024, sendo incerto se McLane foi conservador ou o secretário, exagerado.
Além dos custos, há os riscos, dado que os navios de guerra americanos são alvos preferenciais. No fim de 2024, um cruzador americano abateu por engano um F/A-18 que se operava a partir do porta-aviões USS Harry Truman, o quarto a ocupar o centro de um grupo de ataque naquelas águas desde o início da guerra.
EUA, Reino Unido e, principalmente, Israel têm feitos ataques constantes a bases houthis, até agora sem demover os rebeldes de seu secundário, mas dispendioso, papel no conflito que parece perto do fim.