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Trump choca e confunde com guinada no Oriente Médio

De tédio ninguém morre com Donald Trump, o presidente americano que tomou para si a missão de bagunçar os cânones da geopolítica desde que reassumiu a Casa Branca na segunda-feira retrasada.

Após ameaçar jogar o mundo numa guerra tarifária, gerando a desconfiança de que apenas o fez para auferir concessões de rivais mais fracos enquanto cozinha a relação com a China, o republicano resolveu chocar aliados e rivais.

Na noite de terça (4), foi além de sua já polêmica sugestão de que a Faixa de Gaza deveria ser despovoada para ser reconstruída como uma espécie de resort ao gosto de suas propriedades na Flórida no Mediterrâneo. Afirmou que os Estados Unidos deveriam liderar o esforço, tomando para si o território e até enviando tropas.

Para um presidente que elegeu-se em 2016 com o mantra de acabar com as “guerras inúteis” em que os EUA haviam se metido após serem atacados no 11 de setembro de 2001, é uma guinada e tanto.

Como todos os antecessores que prometeram sair de atoleiros mundo afora, a determinação de Trump não foi exatamente cumprida, mas ele manteve a retórica e evitou expandir o alcance das botas americanas no seu primeiro mandato.

No Oriente Médio, sua ideia mais notável, os Acordos de Abraão, teve o potencial de redesenhar a região em torno de um eixo que incluiria até a Arábia Saudita ao lado de Israel para se contrapor ao Irã.

Ao mesmo tempo, buscava o desengajamento, terceirizando aos novos aliados a missão de enfrentar o colosso xiita de Teerã, que mostrou ter pés de barro ao ver sua rede regional dizimada por Israel na esteira do massacre do Hamas em 7 de outubro de 2023.

Se ficar apenas na proposta imobiliária, por assim dizer, que escamoteia a limpeza étnica desejada pela ultradireita israelense para Gaza, o presidente terá feito um serviço a Binyamin Netanyahu —e a aparente surpresa do premiê ao seu lado na terça foi apenas teatro. Dois Estados? Esqueçam.

Mas se de fato levar militares americanos a Gaza, algo que parece bravata, estará alterando o jogo no Oriente Médio de forma inédita: Israel e Palestina sempre foram território para Tel Aviv, seu maior aliado, agir. De quebra, rasga seu compromisso em evitar expansionismo militarista.

O estrondo de Gaza acabou obscurecendo algo tão ou mais importante, que havia ocorrido pouco antes: a assinatura de um memorando presidencial prometendo “pressão máxima” e mais sanções para coibir o Irã de ter a bomba atômica.

Na superfície, isso está em linha com a política histórica de Trump, que retirou os EUA do acordo nuclear que trocava suspensão de sanções pelo fim das intenções belicistas do programa nuclear dos aiatolás. Mas duas frases colocaram uma interrogação sobre essa leitura.

“Eu estou assinando isso, mas estou infeliz em fazê-lo”, disse, para depois afirmar: “Há muitas pessoas nos altos escalões do Irã que não querem ter uma arma nuclear”.

Não há registro de presidente americano, na história recente, que não estivesse certo publicamente de que Teerã queria a bomba —mesmo Barack Obama, que costurou o acordo com os iranianos em 2015, o fez por ter essa convicção.

Nesta quarta (5), Trump arrematou nas redes sociais. “Relatos de que os EUA, em conjunto com Israel, pretendem fazer o Irã em pedacinhos são muito exagerados. Eu prefiro muito mais um acordo de paz nuclear verificado. Devemos começar a trabalhar nisso imediatamente”, disse.

Isso é um giro que, se verdadeiro, aliena Netanyahu, que comandou com o apoio de Joe Biden uma campanha dura contra os prepostos iranianos no Oriente Médio, chegando quase às vias de fato nas quatro trocas de ataques diretos entre Teerã e Tel Aviv desde 2023.

Por evidente, não se deve levar o que Trump diz ao pé da letra. Ele pode estar apenas blefando, após passar seu primeiro mandato ameaçando atacar o Irã, mas o fato é que Teerã nunca esteve numa posição tão fraca desde os tempos da guerra com o Iraque, nos anos 1980.

A dizer que há divisões na elite política do país, ele acena ao presidente Masoud Pezeshkian, visto como mais moderado, em oposição ao establishment militar e de segurança que, apoiado pelo líder supremo, Ali Khamenei, sempre buscou agressão e acesso à bomba —afinal, Israel tem ao menos 90 ogivas nucleares.

É uma abordagem nova, se não for da boca para fora. Ela pode, claro, ter o efeito contrário e levar à aceleração da produção de uma arma nuclear no Irã.

O recente acordo estratégico com a Rússia pode dar instrumentos novos ao país, que tem urânio para cerca de quatro bombas pronto para ser enriquecido de forma a virar uma arma. O que falta é o que Moscou, ou Pyongyang, tem: tecnologia para miniaturizar a ogiva para fazê-la caber num míssil balístico.

Como se vê, é um cenário confuso, com a única certeza de que Trump veio para confundir, restando saber se pretende explicar o que quer em algum momento.

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