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Wang Mang: o tirano chinês que criou moeda bizarra, causou hiperinflação e morreu esquartejado

Munido de armas e do monopólio do uso legítimo da força, um único homem (ou mulher) pode provocar um imenso estrago. Quando esse poder se combina a ego inflado, arrogância e uma liderança ditatorial, os danos se multiplicam, deixando cicatrizes que atravessam gerações. As fantasias de um tirano tornam-se maldições duradouras para a sociedade.

Essa é uma lei de ferro da história humana. O imperador chinês Wang Mang é um exemplo eloquente.

Se você quer saber como funciona uma ditadura absoluta — das mais cruéis que já existiram — esta é uma história que merece ser lida.

Reformas “marxistas” dois mil anos antes de Marx

Enquanto as dinastias que governaram a China ao longo de quatro milênios costumavam durar décadas ou até séculos, a dinastia Xin durou apenas 14 anos, de 9 a 23 d.C. Wang Mang foi seu único imperador. No mesmo período em que o imperador Augusto governava Roma e Jesus era uma criança em Nazaré, Wang, então alto funcionário da dinastia Han, assumiu o poder como regente.

Com a morte precoce do jovem imperador que ele assessorava, Wang tomou o trono para si e ordenou a eliminação de potenciais opositores. Seu governo foi um breve, mas brutal, intervalo entre duas fases da dinastia Han, que retornou ao poder após sua queda.

Apesar de ter vivido quase dois milênios antes de Karl Marx, Wang adotou ideias que hoje seriam vistas como marxistas. Nacionalizou o ouro do país, impôs regulações severas ao comércio e aos empréstimos, confiscou terras alegando que pertenciam ao Estado e redistribuiu-as entre pobres (muitos sem experiência para cultivá-las) e aliados políticos. Instituiu impostos sobre quase tudo e talvez tenha sido o primeiro governante a cobrar imposto de renda. Os cidadãos eram obrigados a relatar sua renda anualmente, sob pena de prisão em caso de informações falsas.

Criou uma nova burocracia para controlar os preços e manteve o país em guerra constante, tanto contra rebeldes internos quanto contra inimigos externos.

Wang chegou a abolir a escravidão em 9 d.C., mas não por razões humanitárias — foi uma estratégia para enfraquecer os proprietários de terras antes de confiscá-las. Três anos depois, restabeleceu a escravidão, que só seria abolida no início do século XX, antes de ser retomada sob outras formas pelo Partido Comunista Chinês com Mao Tsé-Tung. Hoje, ainda existem relatos de trabalho forçado de minorias étnicas, como os uigures, em campos de reeducação.

Colapso social e econômico

Segundo o historiador Pan Ku, autor de “The History of the Former Han Dynasty” (A História da Antiga Dinastia Han, sem edição em português), antes da execução de Wang pelos rebeldes, a população do império havia sido reduzida à metade. Ele compara o efeito social das políticas de Wang a uma doença crônica:

“Quando os ricos não conseguiam se proteger e os pobres não tinham como sobreviver, eles se revoltavam, tornando-se ladrões e assaltantes. Refugiavam-se em regiões remotas, como montanhas e pântanos, onde as autoridades não conseguiam capturá-los. A desordem se espalhava diariamente. Em várias regiões, dezenas de milhares morriam em confrontos, eram capturados por inimigos ou sucumbiam à fome e às epidemias. Chegou-se ao ponto de haver canibalismo.”

Como se tudo isso não bastasse, Wang destruiu o sistema monetário. Por gerações, os chineses usaram moedas wu zhu — redondas, com um furo quadrado no centro, feitas de bronze ou ouro. Wang proibiu seu uso e inundou o mercado com moedas fiduciárias de baixo valor, algumas feitas de metais inferiores, outras de materiais exóticos como conchas e búzios.

O historiador Richard von Glahn, em “The Economic History of China” (História Econômica da China, sem edição no Brasil), relata que essa mudança gerou hiperinflação, colapso no comércio e paralisação da produção. Trata-se de um exemplo precoce da chamada Lei de Gresham: moeda ruim expulsa moeda boa. Comerciantes e trabalhadores protestavam, e quem usava a antiga moeda podia ser executado ou exilado.

Hoje, colecionadores valorizam as moedas bizarras desse período. O livro “The Numismatic Legacy of Wang Mang” (O Legado Numismático de Wang Mang, 1971), de Heinz Gratzer e A. M. Fishman, documenta moedas em formato de facas e pás. Os autores destacam a mudança de personalidade do imperador: de um estudioso gentil e generoso antes do poder, tornou-se um tirano ganancioso e homicida depois da ascensão ao trono.

Suas ações antes de sua ascensão ao trono são as de um sábio erudito, gentil e generoso, preocupado com honra e piedade. Suas ações como Imperador são as de um déspota descuidado, ganancioso e assassino que desconsiderava o bem-estar de seus súditos… Suas convicções confucionistas também são questionadas, pois suas ações podem ser vistas como as de um cortesão implacável e manipulador político intrigante, e não como as de um verdadeiro erudito confucionista.

Apagando o legado do tirano

Governos que desvalorizam suas moedas muitas vezes impõem leis para forçar o uso da nova moeda. Wang levou isso ao extremo. O historiador Robert Tye relata que autoridades foram posicionadas em alfândegas, estalagens e portões para fiscalizar quem circulava sem a nova moeda. A punição por usar moedas proibidas não era apenas a morte: também havia a escravização da família do infrator e de seus cinco vizinhos mais próximos.

Quando confiscou as reservas de ouro do povo sob o pretexto de “interesse público”, Wang na verdade acumulou tesouros para si. Após sua morte, rebeldes encontraram mais de 150 toneladas de ouro escondidas em seus palácios. O povo ficou com moedas praticamente sem valor. Com a restauração da dinastia Han, a antiga moeda wu zhu voltou a circular.

O desgosto pelo regime de Wang foi tamanho que nenhuma de suas “reformas” sobreviveu. As autoridades tentaram apagar sua memória da história. Seu corpo foi esquartejado, e sua cabeça, guardada em uma caixa por seus sucessores, foi destruída séculos depois em um incêndio.

Alguém se atreveria a dizer que Wang Mang não mereceu seu destino? Boa sorte.

Lawrence W. “Larry” Reed é presidente emérito da Foundation for Economic Education (FEE) e autor de diversos estudos sobre liberdade e história.

©2025 FEE – Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês: A Tyranny to Remember

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