• Home
  • Destaque
  • Depois da Tarifa Moraes, o que vai acontecer ao Brasil?

Depois da Tarifa Moraes, o que vai acontecer ao Brasil?

Fui à portaria pegar uma encomenda quando o porteiro me interpelou. Seu Paulo, o senhor que é jornalista…, começou ele. Eu: Não precisa ofender, Seu Valdemar! Rimos e ele insistiu quase num sussurro, como se conspirássemos. O que é que vai acontecer com o Brasil depois desse negócio aí do Trump? Esse “negócio aí” é o tarifaço, cobrado mais por motivos geopolíticos do que econômicos.

Antes de responder, me lembro das últimas horas. Primeiro, a euforia da direita. Agora a elite econômica vai se voltar contra Lula, derrubar Alexandre de Moraes, devolver o poder a Bolsonaro, etc. Depois, as avaliações quanto ao impacto real da medida. E as ressalvas, os vejabens. Agora vai? Agora não vai? Por fim, o esforço evidentemente coordenado da esquerda para impor a narrativa de que não se trata de uma Tarifa Moraes, e sim de um Custo Bolsonaro. Teve até Randolfe Rodrigues vestindo a camisa da seleção!

Certezas, análises, previsões e clichês

Devolvo a pergunta ao Seu Valdemar. O que o senhor acha que vai acontecer? Ele faz uma cara de espanto. Como é possível que um jornalista pergunte a um simples porteiro a opinião dele sobre as consequências da Tarifa Moraes? Perguntando, ué! Gosto de ouvir. E o Seu Valdemar, assim como quem me lê, absorve notícias, análises, opiniões e chutes diferentes. Portanto, ele pode chegar a conclusões diferentes – e interessantes. Diz aí, Seu Valdemar!

Além disso, sou fã da análise assumidamente pouco informadas – e que está longe de ser uma análise ignorante. É que a gente vive num mundo tão cheio de informações, dados e aspas de especialistas; tão cheio de certezas absolutas, análises pretensamente precisas, previsões infalíveis e clichês incontornáveis, que às vezes faz falta uma opinião mais simples, baseada no instinto, na sabedoria ancestral do senso comum ou ainda na capacidade de ouvir o espírito do tempo. E então?, insisti.

Não se preocupe

Seu Valdemar disse que não sabia, que não tinha a menor ideia do que aconteceria. Bom. Até aí, estávamos na mesma. Também estou boiando. Mais perdido que petista dizendo que o tarifaço é só para as empresas, não para os consumidores. Torcendo para as consequências serem boas, mas incapaz de cravar um desfecho. E também estou um pouco cético, com um pé atrás. Desculpe. Não queria estar, mas estou. Em seguida, o porteiro disse que estava preocupado, com medo de que o Brasil virasse a Venezuela. Não tenho mais idade para passar fome, disse. Seu Valdemar conhece a realidade de lá porque é casado com uma venezuelana.

Aí eu disse a ele o que tinha dito para minha mulher na noite passada e digo para vocês agora: aconteça o que acontecer, não se preocupe. Pelo menos tente. Sei que temos razões de sobra para temermos tanto a crise econômica quanto o recrudescimento da ditadura. Igualzinho à Venezuela. Afinal, Lula é um ególatra irresponsável e o STF é o que é. O governo como um todo é de uma mediocridade sem igual na história. Mas se preocupar, perder o sono, fazer planos de fuga, procurar receita de ensopado de cachorro? Aí é demais.

Acho que não gostou muito

Nisso concordamos: o governo é um ajuntamento de aloprados incompetentes e ideologicamente pervertidos, então tudo pode dar errado. Ok. Mas e quanto a nós? Bom, apesar de as redes sociais nos darem a impressão de que temos voz e de que nossa análise barra previsão barra chute barra torcida tem alguma relevância no grande esquema das coisas, na verdade somos minúsculos e impotentes espectadores dessa confusão toda. Nada do que a gente diga ou pense (ou tema) mudará o que dizem, pensam, tramam e perpetram os poderosos. Então, que sentido faz a preocupação de uns e a empolgação de outros?

Não faz. Digo, tem sempre aquele prazerzinho de estar com a razão, de apontar contradições, de fazer parte da patota e de corrigir alguém nas redes sociais. Mas aí não é preocupação sincera nem esperança; é outra coisa. O que quer que aconteça, Seu Valdemar, enfrentaremos, disse. Até porque a gente não tem alternativa. Ao que ele, fechando a cara, respondeu: Tenha um bom dia, Seu Paulo. Passar bem. Acho que não gostou muito, não.

  • Humor ideal do leitor: perdido, confuso e com medo
  • Situação ideal de leitura: andando de um lado para o outro ou em círculos.
  • Risco de ofensa pessoal: moderado, principalmente entre os revolucionários de sofá
  • Probabilidade de você mudar de opinião: baixa, porque tem gente que se acha importante.
  • Reação buscada pelo autor: identificação com o desalento e o otimismo do narrador.
  • Palavras que talvez você não entenda: “recrudescimento”, “ajuntamento” e “vejabens”.

VEJA MAIS

Discussão termina com homem morto com facada na costela

Reprodução/PMMT O crime aconteceu na noite dessa sexta-feira (11), em Peixoto de Azevedo Reprodução/PMMT O…

Abilio vai enviar à Câmara de Cuiabá projeto para parcelar dívida de R$ 700 milhões

Do RepórterMT Abilio vai tentar quitar dívida de R$700 milhões em dois ou três anos…

Depois de se aproximar de judeus, Milei busca o apoio de evangélicos na Argentina

Javier Milei caminha sozinho por um palco com fundo e púlpito negros, se posiciona debaixo…