Ninguém comete o mesmo erro duas vezes. A segunda vez é uma escolha.
Lauren Conrad
O Brasil pagará caro — muito caro — por uma decisão equivocada. O atual mandatário do país tem desafiado, de maneira crescente, tanto o presidente dos Estados Unidos quanto a Justiça norte-americana. Suas declarações alternam entre o tom desdenhoso, agressivo e até mesmo cínico.
Não é a primeira vez. Durante seu primeiro mandato, o presidente brasileiro aprovou uma lei de caráter discriminatório voltada a portadores de passaportes dos Estados Unidos. Em 2004, cidadãos norte-americanos que desembarcavam no Brasil eram obrigados a fornecer suas impressões digitais, segurar um cartaz com número de identificação e serem fotografados — uma exigência exclusiva aos norte-americanos. Alguns turistas chegaram a esperar mais de nove horas no aeroporto para completar o procedimento.
A medida foi uma retaliação à política de segurança dos Estados Unidos, implementada após os atentados de 11 de Setembro, que previa a identificação biométrica de viajantes estrangeiros ao entrar no país. Essa política, no entanto, não se dirigia especificamente aos brasileiros: aplicava-se a cidadãos de 167 países (com 28 exceções). O Brasil foi o único a adotar a reciprocidade. À época, autoridades norte-americanas, como o então secretário de Estado Colin Powell, manifestaram preocupação com o gesto discriminatório.
Mais recentemente, o governo brasileiro vem adotando posturas críticas em relação aos Estados Unidos. O alinhamento com países considerados adversários por Washington — como Irã, Rússia, Cuba e China —, as declarações recorrentes do presidente Lula contra o dólar como moeda padrão de troca internacional, o apoio aberto ao regime venezuelano, críticas à política migratória dos EUA e até a declaração polêmica de Lula a respeito do visto concedido à deputada Erika Hilton têm incomodado o presidente Donald Trump, conhecido por seu temperamento combativo e sua disposição para represálias.
A resposta veio com força: a imposição de tarifas comerciais pesadas, que podem causar sérios danos à economia brasileira. Analistas projetam perdas na casa dos US$ 7 bilhões por ano, enquanto projeções mais pessimistas apontam até US$ 28 bilhões anuais em prejuízos — o que representaria, respectivamente, uma redução de 17% a mais de 50% nas exportações brasileiras para os Estados Unidos. Isso também comprometeria a atração de novos investimentos.
Diante disso, a prudência recomenda a busca de uma solução diplomática e negociada. No entanto, o governo Lula tem ameaçado aplicar a chamada “Lei da Reciprocidade Econômica”, que dificilmente contribuirá para a recuperação da economia nacional.
É fato que Trump agiu com impetuosidade e desrespeito ao Brasil. Ainda assim, espera-se que um governo maduro e responsável busque canais de diálogo, reconstrução e diplomacia. A retaliação recíproca pode até inflar o orgulho nacional, mas não resolve o problema. O Brasil depende de inúmeros insumos importados dos Estados Unidos, fundamentais para sua indústria e para o pujante setor agropecuário. Uma escalada de tensões pode ter apelo político, mas uma solução negociada certamente traria benefícios muito mais concretos: preservaria empregos, manteria o fluxo de investimentos estrangeiros e ajudaria a conter pressões inflacionárias.
Resta a pergunta: o governo brasileiro vai reagir com razão ou com emoção? Até o momento, tudo indica que a razão não tem prevalecido. Mas é legítimo perguntar: uma reação emocional trará algum benefício real ao povo brasileiro?
Marcos L. Susskind é ativista comunitário, palestrante, guia de turismo em Israel e autor do livro “Combatendo o Antissemitismo”