Um inusitado guia de oração pela COP30 foi lançado por um grupo de cristãos, unindo oração e o tema das catástrofes. Normalmente, desastres ambientais geram solidariedade e orações pelas vítimas. Este guia, contudo, pode ser visto como uma forma de oração preventiva.
Três movimentos evangélicos globais –Tear Fund, Renovar Nosso Mundo e 24/7 Prayer– estão à frente de uma mobilização de oração pela COP30. Essa iniciativa reflete uma crescente preocupação ambiental entre os cristãos, impulsionada desde 2015 pela encíclica “Laudato Si” do Papa Francisco.
A premissa é que as ações humanas são a causa do aquecimento global e das catástrofes ambientais. Assim, se os líderes, que se encontrarão em Belém do Pará em novembro, tomarem as decisões corretas, catástrofes poderão ser evitadas. O Guia de Oração da COP30 propõe uma oração preventiva, buscando agir na raiz do problema.
A coexistência entre fé e ciência é evidenciada pela iniciativa, mostrando que o hábito da oração não exclui a aceitação do conhecimento científico. A importância da ciência é destacada pelo grupo na justificativa da mobilização cristã em favor da COP30: “A ciência é clara: devemos manter o aquecimento abaixo de 1,5°C para evitar impactos catastróficos no nosso planeta e nas comunidades mais vulneráveis aos impactos climáticos”.
A proposta do grupo organiza-se em dez semanas de orações, abordando temas como: iluminação para os tomadores de decisões, auxílio aos mais atingidos pelas mudanças climáticas, suporte aos ativistas ambientais, transformações na ética individual e coletiva em relação ao uso dos recursos planetários e o engajamento das igrejas na preservação e restauração ambiental.
Belém foi escolhida para sediar a COP30 por ser uma capital na região amazônica. Sob o ponto de vista da mudança religiosa pela qual passa o Brasil, a capital do Pará também é emblemática. Foi em Belém que dois missionários suecos fundaram a igreja Assembleia de Deus no começo do século 20. Atualmente, a Assembleia de Deus compreende vários ministérios que, em conjunto, constituem o grupo mais numeroso de evangélicos no Brasil.
É pouco provável que as cúpulas das igrejas evangélicas no Brasil adotem o Guia de Oração pela COP30 ou que as comunidades locais se mobilizem em reuniões de oração inspiradas pelo temário proposto. A razão para isso não é a negação da ciência, mas certo ranço no meio evangélico contra organizações globais tais como Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização Mundial da Saúde (OMS).
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Um desafio adicional enfrentado pelo Guia de Oração pela COP30 reside no preconceito de grupos progressistas contra a religião, em particular contra a evangélica. Assim como existe o negacionismo científico, há também o negacionismo religioso. É claro que não considero que aqueles que não creem devam aceitar os pressupostos dos que acreditam em Deus.
A oração pode ajudar a frear o aquecimento global e diminuir os desastres ambientais? Embora a resposta seja uma questão de fé, a mobilização de um número crescente de indivíduos, independentemente de suas crenças, aumenta significativamente as chances de alcançar as transformações necessárias para o planeta.
O guia de oração propõe alguns exercícios criativos para acompanhar as preces, por exemplo, escrever os pedidos em um lenço de papel. O objetivo é transformar a fragilidade dos lenços, que se rasgam quando escrevemos neles, numa metáfora sobre como é fácil rasgar as decisões tomadas em favor do planeta.
Enquanto cristãos se mobilizam para orar pelo sucesso da COP30, os deputados que aprovaram o “PL da Devastação“, lei que afrouxa as regras do licenciamento ambiental, demonstraram que não dão a mínima importância para a próxima geração, afinal, o horizonte deles só alcança a próxima eleição.