Na prática, essa ideologia que prega a harmonia de uma sociedade brasileira sem racismo foi utilizada – sobretudo durante a ditadura militar (1964-1985) – para negar as políticas de marginalização, criminalização e outras violências contra pretos e pardos brasileiros, também enfrentadas por outras populações negras na América Latina.
Estudos como os das historiadoras Erika Denise Edward, para a Argentina, e Fernanda Oliveira, para o Uruguai, mostram como populações de cor foram submetidas a políticas de precarização da cidadania, toda a sorte de agressões e apagamentos históricos, com o objetivo de consagrar suas identidades nacionais a partir da raça branca.
O ato de racismo contra os jogadores palmeirenses escancara a violência racial para além do futebol europeu, como aconteceu com Vini Júnior, na Espanha, em 2023, ao ser atacado com xingamentos racistas pela torcida do Valencia.
É preciso que os clubes brasileiros exijam punições mais duras contra os torcedores que exercerem práticas racistas, indo além de multas pouco expressivas, se comparadas às receitas dos times, e da proibição de torcidas nos estádios.
Toda a América é testemunha secular do que crenças racistas são capazes de promover. Elas questionaram a humanidade dos nativos, dizimaram etnias inteiras, escravizaram outras, violentaram suas mulheres, saquearam suas riquezas, sequestraram africanos do seu continente, os submeteram à fome e à sede nos porões de navios, os forçaram ao trabalho sobre-humano, separaram suas famílias.
Não só o Brasil, mas toda a América Latina tem agora a oportunidade de, sob circunstâncias deploráveis, discutir e combater o racismo dentro e fora de campo.