O repórter e colunista do UOL Thiago Herdy foi seguido e teve dados fiscais, endereço e dados de sua família expostos em um texto difamatório e apócrifo publicado em um site da plataforma Wix.
O site divulga episódios da rotina do repórter –como o momento em que ele sai de casa de carro–, e publica fotos de deslocamentos do jornalista pela cidade, o que demonstra que ele foi seguido.
O texto traz ainda dados da sua declaração de imposto de renda, protegidos por sigilo fiscal, e menciona reportagens produzidas em parceria com outros jornalistas do UOL sobre indícios de irregularidades em contratos emergenciais assinados durante a primeira gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Mensagem com o link de acesso ao site foi publicada na sexta-feira em grupo de WhatsApp frequentado por funcionários do gabinete do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e da Siurb (Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras de São Paulo), órgão responsável pela contratação de obras emergenciais.
O site foi retirado do ar por iniciativa da própria plataforma Wix na última terça-feira, após ser informada sobre a natureza difamatória e o propósito intimidatório da publicação.
Além das informações sobre a rotina privada do repórter, o site trazia dados sobre a rotina de outros integrantes de sua família.
O material traz ainda informações falsas sobre seu patrimônio e sobre as motivações das reportagens publicadas no UOL a respeito de suspeitas de irregularidades envolvendo a administração municipal.
“Thiago Herdy tinha uma missão a cumprir. Seu alvo? A gestão municipal de São Paulo”, escrevem os autores do texto, não identificados.
Em março de 2024, o UOL mostrou em série de reportagens que 223 dos 307 contratos de obras emergenciais assinados pela prefeitura de São Paulo na primeira gestão de Ricardo Nunes (MDB) trazem indícios de combinação entre as empresas convidadas a realizar as obras.
Reportagens demonstraram que três empresas de uma mesma família assinaram quase R$ 750 milhões em contratos sem licitação e que, em alguns casos, a prefeitura ignorou descontos ofertados pelas empresas convidadas a realizar as obras.
Nos meses seguintes, o UOL mostrou ainda que o chefe de gabinete da Siurb e sua família moraram em imóveis pertencentes à empresa que mais faturou contratos emergenciais no período analisado pela reportagem.
Moraram também no endereço do empresário o próprio prefeito Ricardo Nunes e um de seus aliados.
Todos negam haver relação entre os contratos de aluguel e os contratos assinados no âmbito da prefeitura.
O Ministério Público de São Paulo abriu uma investigação para apurar os indícios de combinação entre as empresas envolvidas no contrato.
Como mostrou o UOL na última sexta-feira, por um ano a prefeitura de São Paulo evitou responder aos pedidos de informação solicitados pelos promotores e enviou dados incompletos às autoridades de controle.