Vinicius Lummertz é ex-ministro do Turismo e cientista político
Por Vinícius Lummertz*
O turismo mundial voltou a crescer rapidamente no pós-pandemia, impulsionado pela democratização das viagens e pelo avanço do turismo de luxo. No entanto, o Brasil cresce apenas uma fração desse crescimento global.
Mesmo sendo um dos países com maior potencial turístico do mundo, continua perdendo espaço devido à falta de infraestrutura, insegurança jurídica e ausência de uma estratégia clara para atrair investimentos. Se nada mudar, o país continuará colhendo resultados inferiores aos de outros destinos.
O custo das passagens aéreas caiu drasticamente ao longo das décadas. Em 1970, o valor de uma única passagem era suficiente para comprar onze passagens em 2024. Naquela época, um trabalhador norte-americano precisava trabalhar 140 horas para pagar um voo de Nova York a Londres; hoje, esse custo equivale a apenas 13 horas de trabalho. Essa acessibilidade impulsionou a expansão do turismo global.
Entre 2010 e 2030, o número de viagens internacionais dobrará, tornando-se dez vezes maior do que em 1970. O turismo de luxo, que atualmente movimenta US$ 1,4 trilhão, deve alcançar US$ 2,4 trilhões até 2034, enquanto o turismo global como um todo passará de US$ 7 trilhões para US$ 16 trilhões.
Apesar desse cenário favorável, o Brasil crescerá abaixo da média global. Segundo o World Travel & Tourism Council (WTTC), o turismo de lazer mundial crescerá 45% até 2034, mas no Brasil a projeção é de apenas 13,5%.
No turismo de negócios, o crescimento global será de 76%, enquanto o Brasil crescerá apenas 45%. No entanto, se o país adotasse uma postura mais ambiciosa e investisse em políticas estratégicas, poderia alcançar 35% no turismo de lazer e 75% no turismo de negócios, aproveitando melhor seu potencial.
Mesmo com avanços no Índice de Desenvolvimento de Turismo e Viagens (TTDI), passando da 34ª para a 26ª posição desde 2019, o Brasil ainda enfrenta barreiras estruturais.
Recursos naturais e culturais reconhecidos mundialmente não são suficientes para compensar a precariedade da infraestrutura turística, do transporte e da segurança, fatores que prejudicam a competitividade do país no cenário global.
O setor movimenta US$ 119,4 bilhões, mas isso representa apenas 1,6% do turismo mundial. No segmento de lazer, a participação sobe para 1,8%, enquanto no turismo corporativo é de apenas 0,9%.
Além disso, 94% da receita vem do turismo doméstico, evidenciando a baixa capacidade do Brasil em atrair estrangeiros — algo que países como México, Turquia e Tailândia fazem com grande sucesso.
A insegurança jurídica é um dos principais entraves ao crescimento do turismo
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Pão de Açúcar, um dos cartões postais do Rio de Janeiro
Segundo repetidos estudos do Fórum Econômico Mundial (WEF), o Brasil é classificado como o país mais inóspito para investimentos entre as grandes economias globais. Falta segurança para investimentos em hotelaria, parques temáticos e naturais, marinas e portos turísticos. Cassinos ainda não são permitidos, afastando grandes redes e operadores internacionais.
Como resultado, o Brasil permanece isolado das cadeias globais de turismo, um erro estratégico que países bem-sucedidos souberam evitar. Enquanto no agronegócio o país conseguiu uma forte integração global, o turismo continua travado por burocracia excessiva, lentidão nos licenciamentos ambientais e imprevisibilidade na renovação de contratos de concessão.
A ausência de distritos turísticos organizados e competitivos reduz ainda mais a atratividade para empreendimentos de alto padrão.
O turismo náutico, um dos segmentos com maior potencial, também sofre com a falta de marinas estruturadas e regulamentações pouco definidas. Além disso, o país não possui um plano de conectividade aérea eficiente.
O setor sequer está inserido no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) de forma explícita. Os recursos destinados à promoção do Brasil como destino turístico são escassos em comparação com países como México e Colômbia, e poucos estados e municípios investem em divulgação.
A carga tributária elevada e o acesso restrito ao crédito dificultam a expansão do setor. O Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) foi um alívio temporário, mas a reforma tributária traz novas incertezas.
A diferença nos incentivos é gritante: enquanto o agronegócio recebe R$ 500 bilhões em crédito, o turismo conta com apenas R$ 2 bilhões do Fungetur. Se houvesse incentivos adequados, o Brasil poderia adicionar US$ 30,6 bilhões ao PIB até 2034.
Enquanto o turismo global crescerá US$ 3,2 trilhões, o Brasil captará apenas uma pequena fração desse avanço.
Visto do exterior, o Brasil tem tudo para ser uma potência turística mundial, mas continua sem uma ambição política nacional voltada para isso. As iniciativas do setor privado frequentemente esbarram na falta de apoio e incentivo por parte do governo.
É urgente reconhecer que, além do agronegócio, não há outro setor no qual o Brasil tenha um potencial de liderança mundial tão claro quanto no turismo.
Atualmente, a indústria do turismo já emprega mais de 8 milhões de brasileiros e tem capacidade para gerar ainda mais empregos, acompanhando a tendência de se tornar o maior empregador do planeta nos próximos 10 anos. O Brasil tem todas as condições para crescer no setor. O que falta é ambição.
* Vinícius Lummertz é cientista político pela Universidade Americana de Paris, foi ministro do Turismo e presidente da Embratur no governo Michel Temer. Foi secretário de Turismo do Governo de SP, secretário de Planejamento de SC e diretor do Sebrae Nacional no governo FHC. É Senior Fellow do Milken Institute e membro fundador da Rota da Seda do Turismo.
Fonte: Turismo