- Humor ideal do leitor: revoltado com os comentários da esquerda, mas com uma pitada de indignação ética e estética.
- Situação ideal de leitura: Sozinho, com o celular numa das mãos e a conta do cartão de crédito na outra.
- Risco de ofensa ao leitor: Alto, especialmente se o leitor achar normal expor uma criança com uma bolsa de R$14 mil. E se o leitor estiver de má-vontade também.
- Probabilidade de você mudar de opinião: Baixa, como sempre. Mas as menções a Olavo de Carvalho e Scruton podem causar leves abalos na consciência.
- Reação buscada pelo autor: Um riso contido de quem percebeu que o texto emula um prompt de IA, seguido por um “epa, pera lá…”.
- Palavras que talvez você não entenda: Ensejo, metacafonice, modéstia
“My whole world”
Crie uma crônica ao estilo do Polzonoff. A crônica deve ter cerca de 500 palavras e falar da recente polêmica envolvendo o empresário Roberto Justus. O milionário, que faz questão de ser reconhecido como tal, publicou uma foto ao lado da esposa e da filha. Ou melhor, quem publicou a foto foi a esposa, que é influencer. O detalhe é que a filha, de apenas 5 anos, carregava uma bolsa que custa R$14 mil. Cite a legenda da foto: “My whole world”. Ou “meu mundo intêrin”, em tradução livre, leve, solta e mineira.
Em seguida, comece um parágrafo com a frase “Nem vem que não tem”. O parágrafo deve mencionar o artigo do meu colega J.R. Guzzo, intitulado “Lula e Janja são a caricatura perfeita do milionário brasileiro subdesenvolvido”. E são mesmo. Ninguém está negando isso. Mas toda caricatura é caricatura de algo real. No caso, o milionário brasileiro subdesenvolvido que escreve legendas em inglês e se exibe com uma bolsa de R$14 mil nas mãos da filha de 5 (cinco!) anos.
Guilhotina
Depois, argumente que você sabe que a polêmica em torno da foto tem a ver menos com a ostentação dos milionários subdesenvolvidos, que já se tornou normal e foi até absorvida politicamente pelos líderes de esquerda (vide Lula e Janja); tem a ver mais com a disputa em torno do aumento da alíquota de IOF. Esse furor arrecadatório está sendo vendido pelo governo Lula como uma versão da antiga e sangrenta luta entre ricos e pobres.
Ao mencionar a luta entre ricos e pobres, talvez seja uma boa oportunidade para falar da guilhotina. É que um ex-professor universitário (não cite o nome para não dar cartaz ao sujeito) aproveitou o ensejo (use a palavra “ensejo” de forma metacafona) para dizer que “só guilhotina…” resolve. Mencione o comunicado de Roberto Justus e esposa. Eles dizem que vão processar as pessoas que fizeram esses comentários maldosos. Usando caixa alta, enfatize: OS COMENTÁRIOS SÃO MALDOSOS, REPUGNANTES, ETC.
Modéstia
Nos penúltimo parágrafo, fale da modéstia, que foi, é e continuará sendo uma virtude, ainda que o espírito do tempo grite o contrário. Discorra sobre a elegância, valor antes associado à virtude da modéstia, e que hoje está praticamente esquecido. Critique essas pessoas que alardeiam o preço de tudo que vestem, comem, bebem, etc. Use aquelas comparações e metáforas bens ruins (sua especialidade) para falar de ostentação, cafonice e da ideia pervertida que algumas pessoas têm do sucesso e do próprio capitalismo, como não?
Se couber, questione no texto os princípios éticos que estão sendo transmitidos a uma menina que ostenta uma bolsa de R$14 mil. Inclua a pergunta “isso é um valor conservador?” e responda com uma citação de Roger Scruton. Ou melhor, do Olavo de Carvalho. Melhor ainda: dois dois. Para finalizar, crie um título bem criativo e que contenha o trocadilho bilingue “Make Ostentação Cafona Again” ou “Make Modéstia Elegante Again”, qual você achar melhor.