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Depois de se aproximar de judeus, Milei busca o apoio de evangélicos na Argentina

Javier Milei caminha sozinho por um palco com fundo e púlpito negros, se posiciona debaixo do único holofote e faz, por cerca de 40 minutos, seu primeiro discurso na província de Chaco (nordeste argentino) desde que foi eleito presidente.

A pregação misturando críticas ao Estado, forças celestiais e liberdade econômica não é novidade para o líder argentino. Entretanto, no último fim de semana, ele se tornou o primeiro ocupante da Casa Rosada a inaugurar um templo evangélico —o Portal del Cielo, em Resistencia, que é agora a maior igreja evangélica da Argentina, sinal de como o grupo religioso vem crescendo no país.

O evento marcou a abertura do Portal del Cielo, com capacidade para 15 mil pessoas (a mesma de uma das casas de espetáculos mais importantes de Buenos Aires, a Movistar Arena) e entradas VIP de até 100 mil pesos argentinos (R$ 440, na cotação oficial).

Em seu discurso no templo de Chaco, Milei disse que “o Estado é a representação do Maligno na Terra”, a mesma imagem que antes de ser presidente tinha usado para se referir ao papa Francisco —após ser eleito, ele se desculpou.

Em Chaco, o ultraliberal disse que “cada vez que o Estado avança há mais pobreza, mais calamidades, miséria” e que “a justiça social não é nem mais nem menos do que inveja com retórica, ou seja, é inveja disfarçada de algo bem pensante, mas ainda é um pecado capital”.

As forças políticas veem os evangélicos como uma grande fonte em potencial de votos —em 2008, 9% dos argentinos se declaravam evangélicos; em 2019, 15,3% (sendo 13% pentecostais ou neopentecostais), segundo a mais recente Pesquisa Nacional sobre Crenças e Práticas Religiosas na Argentina, coordenada pelo Conicet (Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas).

As regiões da Patagônia, ao sul, e do Nordeste (onde está a província de Chaco) têm um percentual maior de evangélicos do que outros pontos da Argentina.

Em outros países da região, como o Brasil, as igrejas são mais fortes e têm se envolvido ativamente na política, com seus membros votando em blocos e com representação articulada no Congresso. Na Argentina, a situação é diferente, com um grande número de igrejas menores, mais próximas do poder local e que ainda não participam ativamente da política nacional.

“Ter uma bancada evangélica e uma politização como a do Brasil não é o único destino possível para um país com evangélicos. Além disso, a politização evangélica no Brasil —morei no país por oito anos e o conheço bem— não é homogênea nem contínua na mesma direção”, pondera o antropólogo Pablo Semán.

Segundo o pesquisador do Conicet, as igrejas na Argentina são muito mais divididas, tendo dificuldade de produzir uma politização homogênea e vertical (em que o líder religioso indica um voto). “Não devemos tirar uma conclusão precipitada sobre o contato de Milei com os evangélicos de Chaco. Ele tenta alcançar os evangélicos da mesma forma que todos os políticos tentaram desde a década de 1990. O kirchnerismo também tem amplos contatos com esses grupos.”

A relação de Milei com a fé é fluida —biógrafos afirmam que ele usou uma paranormal para contatar seu cachorro morto e que sua irmã, conselheira e secretária-geral da Presidência, Karina, recorre ao tarô para tomar decisões. De origem católica, ele se identifica com valores do judaísmo (a depender da plateia, em alguns discursos, diz que é judeu; em outros, que é um cristão que defende os judeus).

No entanto, as falas do presidente fazem a correlação entre liberdade e prosperidade, atribuem a sua chegada ao poder às “forças do céu”, mantêm um alinhamento ao Estado de Israel e criticam o aborto, posicionamentos que encontram eco entre parte dos líderes evangélicos do país.


Como pensam os evangélicos argentinos

50,3%

opinam que o aborto deve ser permitido apenas em casos de estupro e de risco de vida

60,9%

afirmam que programas sociais desestimulam a procura por emprego

50,4%

dizem que o Estado não deve financiar igrejas

Fonte: Pesquisa Nacional sobre Crenças e Práticas Religiosas na Argentina (2019)


O templo onde Milei discursou é liderado pelo pastor Jorge Ledesma, da Igreja Cristã Internacional. Ele tem uma abordagem que mescla fé e milagres, conduz programas de TV e publicou diversos livros em espanhol. A igreja foi fundada por Jorge e sua mulher, Alicia, em 1994.

O filho de Ledesma, Cristian, contou em um programa de rádio que um “milagre” permitiu a construção do templo, argumentando que o dinheiro era guardado em pesos argentinos em um cofre e que, pela força da fé, eles apareceram convertidos em dólares.

O procurador federal de Resistencia, Patricio Sabadini, iniciou uma investigação preliminar por suposta lavagem de dinheiro contra o pastor. Consultada se opinaria sobre a ação, a Igreja Cristã Internacional não respondeu.

A participação de Milei no evento não foi apoiada por todos os evangélicos. Em uma carta, o diretor da Aciera (Aliança Cristã de Igrejas Evangélicas da República Argentina), Norberto Saracco, disse que Milei tomou emprestado o púlpito da igreja para “dirigir sua diatribe atormentada por falsos argumentos, distorções maliciosas e declarações totalmente contrárias aos ensinamentos do Evangelho”.

Ele acrescenta que, ao discurso de ódio e à desqualificação do adversário que o presidente ergue como bandeira, é preciso somar a desqualificação do Estado. “Para milhões de argentinos, isso soa como o canto de uma sereia. O que o presidente esquece ou ignora é que os países com o melhor padrão de vida para todos, não apenas para alguns, são os países escandinavos, baseados em princípios protestantes, mas —e aqui está a diferença— aplicados por um Estado muito presente.”

“Muitas das observações do presidente sobre os perigos da filosofia socialista têm fundamento, especialmente quando ele aponta aspectos que contradizem os valores judaico-cristãos”, avalia Walter Ghione, pastor e deputado provincial por Santa Fé. “Um dos seus maiores erros é afirmar que o Estado representa o mal. Essa ideia contradiz não apenas a história bíblica, mas também a teologia cristã.”

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