É urgente tratar o homem

Era para ser uma crônica levinha para carimbar o sextou, mas leio que mais uma mulher foi morta por seu ex-companheiro. A jornalista Vanessa Ricarte, 42, entra para uma tenebrosa estatística que não dá sinais de melhora. Entra ano, sai ano, muda um governo atrás do outro e os números de feminicídio não se abalam, o que reforça a sensação de que é preciso reajustar o foco no enfrentamento do problema.

No ano passado, o governo Lula lançou o Pacto Nacional de Prevenção ao Feminicídio com 73 medidas e orçamento de R$ 2,5 bilhões. São ações importantes que prometem conscientizar mulheres sobre violência, capacitar profissionais, melhorar os canais de atendimento, criar estruturas para acolher as vítimas em todas as fases desse trauma. O documento é bastante detalhado, mas não menciona nenhuma única vez a palavra “homem”, justamente os responsáveis por essa epidemia.

Tratamos a doença sem atacar a causa. Há raras iniciativas de reabilitação para agressores, mas quase nada, em termos institucionais, que foquem na prevenção desse tipo de violência, na formulação de programas educacionais que ensinem, desde a alfabetização, o básico sobre igualdade de gênero com foco neste tema. Como temos visto, a adolescência tem sido o ponto de despertar de mulheres das novas gerações sobre questões que envolvem assédio, consentimento, violência física e psicológica. Mas é um debate que não tem atravessado a rua. Do outro lado, homens mais jovens ainda são moldados pelos parâmetros vigentes de uma sociedade extremamente machista. É impraticável falar em desconstrução da masculinidade quando as iniciativas ainda são elitistas e têm efeito em grupos tão pequenos que não enchem um sarau na Vila Madalena.

Há anos, pelos menos dez, falo que os homens precisam abraçar o feminismo, e isso só acontecerá de forma universal quando as questões de desigualdades forem integradas ao currículo desde o ensino fundamental. É urgente que sejam trazidos para o debate, que sejam cobrados a assumir o papel de agentes dessa mudança, que apenas será efetiva se passar a ser pauta nos veículos de comunicação, tema de ações dos RHs de todas as empresas, dos clubes de futebol, nas repartições públicas, nas ações de marketing, nos posts de influenciadores.

A violência de gênero permeia todas as classes sociais e o passo que falta é discutir uma prevenção que envolva mudanças estruturais nas relações de gênero, processo já iniciado pelas mulheres. Porém, não é suficiente aumentar a consciência feminina sobre a violência se os homens não são igualmente sensibilizados e educados para transformar as estruturas psicológicas e sociais que ainda os fazem crer que têm direito sobre a vida das mulheres.

Não faremos essa revolução sozinhas, se não tivermos o apoio de nossos interlocutores. Entendo que esse diálogo foi interditado muitas vezes por correntes do feminismo que promoviam o afastamento e a culpabilização dos homens. Não funcionou. Essa abordagem não trouxe resultados. Precisamos de aliados, que se comprometam e se responsabilizem a mudar a dinâmica das relações, que terão impacto profundo no ambiente privado, social e corporativo.

VEJA MAIS

Horóscopo de Áries: veja a previsão para hoje, segunda-feira (24/02/2025)

Horóscopo de Áries: veja a previsão para hoje, segunda-feira (24/02/2025) noticia por : UOL O…

Quem é Friedrich Merz, o líder conservador que caminha para ser novo chanceler da Alemanha

Mas foi no início dos anos 2000, quando suas ambições foram inicialmente frustradas, que ele…

Mal causado por denúncia da PGR não se resume a Bolsonaro

Passei o fim de semana conversando sobre a denúncia da PGR contra Bolsonaro. É que…