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Feirão do Centrão: política honesta não paga, mas também não leva

Flávio Bolsonaro e Humberto Costa estão fazendo compras no Feirão do Centrão. Eles param na primeira barraquinha, onde quem os atende é um senhorzinho que parece o Kassab, não!, péra!, deixe-me ver melhor. Ah, que pena. Não é o Kassab. Mas que parece, parece.

— E aí, freguesia? O que vão levar hoje? Algum ministério ou secretaria na prefeitura de São Paulo? Aliás, chegaram meia dúzia de sinecuras em autarquias federais. Fresquinhas, fresquinhas.

— Não, seu Centrão. Hoje quero algo mais robusto — diz Flávio. — Tô precisando de um presidente do Senado que se comprometa com a elegibilidade do papai. Mas desta vez tem que ser um presidente de responsa, hein? O último que você me vendeu…

— Mas o Pacheco era mesmo um produto de qualidade inferior. Eu avisei. — E para Humberto Costa: — E o senhor, seu Humberto? Vai querer o que hoje?

— Tô querendo um presidente do Senado que se comprometa com a elegibilidade do pai dele. Hahahaha. Tô brincando. Deixa o colega de direita aqui fazer o pedido primeiro. Afinal, ele parece mais desesperado do que eu.

— Desesperado, eu? Imagina? Desesperados estão os manés que ficam brigando com a família por causa de política. Eu tô tranquilo, tranquilo. O meu tá garantido.

Made in Amapá!

— Pois não, freguesia! Eu tenho aqui, ó, um Alcolumbre madurinho e rechonchudo. Tá vendo? É produção de um amigo meu lá do Amapá.

— Produto do Amapá é bom, hein, Flavinho? A gente do PT acabou de comprar um Randolfe pra ser líder do governo no Senado e não se arrepende.

— O problema é que da última vez a gente comprou um Pacheco aqui nesta barraca e veio estragado. E antes disso a gente tinha comprado um Alcolumbre… e ele demorou meses pra votar o nome do nosso indicado ao STF.

— Se bem que não fez diferença nenhuma mesmo, né, Flavinho? De qualquer forma, essa é a melhor barraca da feira…

— É a única. Mas, vem cá, seu Centrão. E esse Alcolumbre aí é puro mesmo… Sem suborno?

Corrupção orgânica e sustentável

— Que é isso, dotô?! Os tempos são outros. Hoje a gente só trabalha com corrupção orgânica e sustentável. É tudo adubado com pragmatismo ultra maxi plus e irrigado com emendas de orçamento secreto. Coisa fina.

— Tá certo. Mas, afinal, quanto é tá esse Alcolumbre aí? Será que consigo pagar? Ainda mais com a inflação do governo do meu amigo aqui… — diz Flávio, apontando para Humberto Costa. Que não diz nada.

— Ah, tá barato. Pra você eu não vendo. Eu troco… Troco pelo apoio entusiasmado do teu pai e, claro, os votos do PL.

— Isso é fácil. Já viu a bancada do PL? Mas, me diz, seu Centrão. Tem negociação? Por esse preço aí eu preciso de pelo menos algum carguinho na mesa diretora? Sabe como é que é. Senão vai ser aquele chororô na direita.

Confie em mim

— Deixa eu ver com o meu gerente o que eu posso fazer pra você — diz o feirante, saindo para conversar com Seu Maquiavel, o dono da barraca. Ele volta rapidinho, todo feliz. — O gerente me autorizou a te oferecer a vice-presidência da casa. E, de brinde, você ainda leva meia dúzia de influencers que vão convencer o eleitor bolsonarista de que teu pai tá certo. Sempre certo. Que ele é um gênio do xadrez 4D.

— Ah, isso nem precisa. Isso a gente tem de monte. Mas aceito, claro. Só mais uma coisa: esse Alcolumbre aí serve também pra anistiar os presos do 8/1? Ou é só pra garantir a elegibilidade do papai em 2026 mesmo?

— Isso eu já não posso te prometer… E garantir a gente não garante nada. Nem a elegibilidade. Você sabe. Depois que esses danadinhos assumem o cargo…

— Não se preocupe, Flavinho — intervém Humberto Costa. —Esse Alcolumbre é de primeira qualidade. Confie em mim.

— Olha que eu vou confiar, hein?

— Pode confiar! Pô, alguma vez a esquerda já mentiu? Parece que não conhece a gente, rapá!

Humberto costa pisca para o Centrão, que pisca para seu Maquiavel, que pisca para o Tinhoso, que pisca para Maquiavel, que pisca para o Centrão, que pisca para Humberto, que fica todo emocionadinho.

Deusolivre!

— Então me dá um Alcolumbre.

— Tá na mão, chefia! Não quer mais nada hoje? Um Marcos do Val pra fazer figuração, talvez?

— Deusolivre!

Flávio pega a carteira para dela tirar um punhado de princípios outrora inegociaveis, bem como o apoio incondicional do ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas é interrompido por Humberto Costa.

— Péra, péra, péra! Péra que eu vou querer um Alcolumbre também — diz ele. E virando-se para Flávio: — Ainda mais agora com a vitória do Trump. Tô precisando garantir que o ministro Alexandre de Moraes não vai sofrer impeachment. Porque você sabe, né, Flavinho? Sem o STF este nosso governo não sobrevive.

— Ah, se sei! Pois eu não tive que melar a CPI da Lava Toga! E nem assim deu certo.

— Hahahahaha. É verdade. Vocês são muito azarados mesmo!

Gênio da política!

— Olha, dotô — diz o Centrão, recuperando o fio da meada. — Infelizmente esse aí é o único Alcolumbre que a gente tem hoje. Mas tem Hugo Motta, se o senhor quiser. Baratinho, baratinho.

Antes que Humberto Costa possa responder, porém, Flávio expressa toda a sua generosidade política e, num sinal de amizade, oferece:

— Fica tranquilo, Humbertinho. Ô, seu Centrão, faz o seguinte. Dá pra dividir o Alcolumbre? Aí o meu amigo Humbertinho aqui fica com a parte em que ele protege o Alexandre de Moraes. E eu fico com a parte da elegibilidade do papai. Que tal?

— Você é um gênio da política, Flávio! Um gênio!

— Papai sempre disse isso.

Eles riem e se abraçam porque sabem que, independentemente do futuro do país, nem um nem outro sairão prejudicados.

Goteira

— Ô, seu Centrão. Você disse que tinha Hugo Motta pra vender… Pensei melhor, consultei as bases e… Vou querer um punhado — diz Humberto Costa.

— Xi, dotô. Desculpe. Tinha mesmo, mas aqueles dois ali lá levaram tudo.

Flávio Bolsonaro e Humberto Costa olham para o lado e veem Eduardo Bolsonaro e Gleisi Hoffmann com as sacolas cheias de Hugos Mottas.

— Tá meio verde, ainda. Mas daqui a pouco fica vermelhinho — comenta Gleisi. — Vocês sabiam que eu vou virar ministra?

Ninguém responde.

— Ô, mano. E você? Por que tá comprando esse monte de Hugo Motta aí? É pela anistia aos presos do 8/1? Pela elegibilidade do papai? Pela defesa da imunidade parlamentar?Por alguma PEC conservadora?

— Não vai me dizer que é pelo impeachment do Lula! — diz Humberto Costa.

— Impeachment? Quem falou em impeachment? Fascistas! Neoliberais! Golpistas! Não passarão! — diz Gleisi.

— Não. Não é por nada disso — responde Dudu. — É que eu tô com goteira no meu apartamento funcional e ando precisando de uma vaga melhor no estacionamento da Câmara. Além do mais…

— Já sei! O papai mandou! — diz Flávio.

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