Mais do que uma questão exclusivamente sexual masculina, o surgimento de sintomas de impotência e disfunção erétil deve ser visto como um alerta amplo da saúde do homem. O alerta é da fisioterapeuta Gislaine Bonete da Cruz, que em entrevista à Gazeta do Povo apontou a necessidade de um cuidado geral, em especial com o sistema cardiovascular.
Segundo a especialista, há estudos que mostram que sintomas associados à impotência, como a dificuldade ou mesmo impossibilidade de se manter uma ereção, podem ser uma manifestação precoce de problemas graves relacionados ao sistema circulatório.
“Essa disfunção erétil pode aparecer cerca de cinco anos antes de uma disfunção grave do sistema cardiovascular. Isso precisa ser encarado como um alerta sério de que algo não está bem com o sistema cardiovascular global”, apontou.
Para Cruz, os pacientes com sintomas de disfunção erétil podem, por preconceito ou desconhecimento, negligenciar um tratamento mais completo, uma vez que a impotência pode não ser um problema isolado.
“Essa queixa acaba sendo, muitas vezes, vista de forma isolada. O paciente quer resolver isso o mais rápido possível, e não olha para o todo, não olha que essa alteração pode ser um alerta para investigar seu corpo de uma forma mais global. E acaba fazendo só um tratamento inicial, que ajuda em uma coisa, mas pode estar mascarando outra, mais grave”, salientou.
Tratamento da disfunção erétil vai além dos medicamentos
A descoberta dos efeitos positivos de certos medicamentos no tratamento da impotência foram, de acordo com a especialista, quase por acaso. Originalmente projetados para facilitarem a dilatação dos vasos sanguíneos em geral, esses remédios apresentaram, como efeito colateral, um recuo nos casos de disfunção erétil causada pela circulação ineficiente.
A fisioterapeuta explicou à reportagem que o tratamento com medicamentos é o mais utilizado para tratar a disfunção erétil. A utilização de remédios, porém, deve ser feita de forma controlada pela alta possibilidade de efeitos colaterais decorrentes do uso dessas substâncias.
“Essa vasodilatação sobrecarrega o sistema circulatório, porque passa a circular um volume maior de sangue do que antes. Isso gera um aumento na frequência cardíaca, e aumenta também a frequência respiratória. Se a pessoa estiver fazendo um uso ‘recreativo’ desses medicamentos e tiver qualquer predisposição a um problema de saúde nesses sistemas, essas substâncias podem antecipar um cenário que talvez só se manifestasse lá no futuro”, alertou.
Fisioterapia pélvica e eletroestimulação como alternativas seguras
Em um artigo publicado por ela e por outros pesquisadores na revista internacional Nature, Cruz explica que uma alternativa de tratamento às medicações é a aplicação de fisioterapia no local. O fortalecimento do chamado “assoalho pélvico”, por exemplo, pode apresentar bons resultados a depender das condições do paciente.
Utilizado há décadas pela comunidade médica, o tratamento por meio da eletroestimulação pode ser indicado em alguns casos de disfunção erétil, reforçou a especialista. O procedimento, porém, só deve ser realizado por fisioterapeutas especialistas em fisioterapia pélvica.
No artigo, Cruz aponta que ainda há espaço para que a técnica da eletroestimulação seja estudada de forma associada a outros tratamentos.
“Não é que não funciona, pelo contrário. Mas nós revisamos muitos estudos e nos parece claro que há espaço para outras análises. A estimulação elétrica é uma técnica, mas falta estudar sua aplicação com outras, como o fortalecimento muscular. É importante ampliar esses estudos porque dessa forma será possível ampliar os efeitos desses tratamentos, principalmente em quem não puder tratar com a medicação”, completou.