O presidente da França, Emmanuel Macron, admitiu pela primeira vez nesta terça (31) que sua decisão de antecipar as eleições parlamentares, em junho, ajudou a aumentar a instabilidade política no país.
“A lucidez e a humildade me obrigam a reconhecer que, neste momento, essa decisão produziu mais instabilidade do que paz. E eu reconheço isso plenamente”, disse Macron em discurso na TV antes das comemorações do Ano-Novo.
“A dissolução causou mais divisões na Assembleia do que soluções para o povo francês”, acrescentou ele, no mais claro mea culpa desde a realização do pleito
Em junho, Macron decidiu dissolver a Assembleia Nacional e convocar novas eleições legislativas sob o argumento de que havia “necessidade de esclarecer” a situação política do país. A medida ocorreu depois que o seu partido teve resultado ruim nas eleições do Parlamento Europeu.
Também nesta terça o presidente afirmou que os franceses terão de decidir sobre alguns “temas cruciais” para o país em 2025, sugerindo a possibilidade de convocar consultas ou referendos para superar os impasses políticos.
“A esperança, a prosperidade e a paz do próximo quarto de século dependem das nossas escolhas de hoje. É por isso que em 2025 […] pedirei que decidam sobre certos temas cruciais”, afirmou Macron.
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O presidente francês também pediu aos europeus que “deixem para trás a ingenuidade”, especialmente em áreas como comércio e agricultura.
Sem mencionar diretamente o recente acordo entre os países do Mercosul e a União Europeia (UE), Macron, crítico desse pacto que ele considera prejudicial aos agricultores franceses, pediu para “dizer não às leis comerciais ditadas por outros”.
Após 25 anos de tortuosas negociações, Mercosul e UE concluíram em dezembro um acordo de livre-comércio que integrará um mercado gigantesco abrangendo mais de 700 milhões de pessoas.
O acordo, negociado do lado da UE pela Comissão Europeia, o braço executivo do bloco, e não pelos Estados-membros, agora precisa ser ratificado pelos países que a compõem.
O pronunciamento encerra um 2024 tumultuado para Macron. Em junho, o presidente francês dissolveu o Legislativo após os ganhos da ultradireita no pleito para o Parlamento Europeu.
Sua esperança era formar uma nova e robusta maioria, aproveitando a divisão da esquerda e o temor de uma vitória da ultradireita. O tiro saiu pela culatra, no entanto. As eleições antecipadas deixaram o Parlamento sem uma maioria clara e dividida em três blocos: esquerda, centro-direita e ultradireita.
Em 4 de dezembro, outro capítulo da prolongada crise política francesa fez com que o país ficasse novamente sem primeiro-ministro, apenas 90 dias depois da nomeação de Michel Barnier. As duas extremidades do plenário da Assembleia Nacional, esquerda e ultradireita, aprovaram uma moção de censura ao governo.
Após a queda de Barnier, Macron nomeou no último dia 13 seu aliado centrista e político veterano François Bayrou como primeiro-ministro, com o desafio de reunir uma maioria parlamentar que impeça sua queda e agrave ainda mais a crise política. Bayrou, porém, conta apenas com o apoio de uma coalizão minoritária formada por centristas e conservadores.