A estratégia, reciclada há tempos, parte de um fato concreto (o ex-presidente é uma pessoa popular capaz de arrastar multidões) para vender uma extrapolação falsa (essas multidões demonstram que a maioria dos brasileiros está com ele). Tática manjada para pressionar deputados e senadores a avançarem com o projeto de lei que anistia golpistas no Congresso Nacional. E para encarecer o custo e o tempo de uma prisão.
Mas por essas coincidências maravilhosas da estatística, o mesmo número (52%) acredita que Bolsonaro não será preso, segundo o Datafolha, enquanto outros 41% acham que sim, que desta vez ele vai ver o sol nascer quadrado.
Para não ser preso, três coisas teriam que acontecer: ele ser considerado inocente das acusações de tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. O que, dadas as evidências reunidas pela Polícia Federal e a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República, é mais difícil do que o tal camelo passar pelo buraco da tal agulha.
A segunda opção é a aprovação de uma anistia pelo Congresso Nacional, que sobreviva ao possível veto de Lula e à provável declaração de sua inconstitucionalidade pelo STF – é para essa briga posterior que Bolsonaro está se armando quando chama seus seguidores à avenida Paulista. Lembrando que a concessão de algum perdão por parte de um novo governo de (extrema) direita que derrote a gestão Lula ocorreria em 2027, ou seja, Jair passaria um tempo no xadrez.
E, por fim, mas não menos provável, a fuga. Se uma condenação estiver iminente, ele tentará fugir para os Estados Unidos de Donald Trump e “comandar a resistência” direto de Orlando, na Flórida, ou vai encarar de frente a prisão como fez Lula, aceitando cumprir a pena enquanto tenta reverter uma decisão, e se tornar uma espécie de mártir?
Paralelos com o presidente Lula não são aplicáveis aqui. Frente à proximidade de sua prisão devido à condenação no âmbito da Lava Jato, muitos sugeriram ao petista asilar-se fora do país, o que ele rechaçou. O STF acabou anulando a condenação por conta da falta de lisura do processo, mas ele chegou a pagar 580 dias de cana na carceragem da Polícia Federal em Curitiba e ser impedido de concorrer em 2018.