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Mal causado por denúncia da PGR não se resume a Bolsonaro

Passei o fim de semana conversando sobre a denúncia da PGR contra Bolsonaro. É que vinham me falar e perguntar minha opinião – e eu não queria parecer mal-educado. E não adiantava tentar falar do Coxa ou da Fernanda Torres ou do STF Burger. Meus interlocutores queriam saber apenas da denúncia da PGR e de Bolsonaro.

Falava, falava, falava, fazia uma pausa para comer uma carninha, falava, cerveja, falava, falava. Falava tentando explicar as fragilidades da denúncia, bem como as nulidades e ilegalidades de tudo isso que vejo como uma farsa. Minhas palavras, porém, sempre batiam na parede do “você só diz isso porque é bolsomínion”. Como se fosse impensável defender alguém por quem não se tem necessariamente especial estima.

Ares de legalidade

Nesse momento, meus interlocutores, alguns animados por hectolitros de cerveja, juntavam a ojeriza que nutrem pelo ex-presidente (e que considero legítima, apesar de não concordar com ela) à ignorância quanto ao espírito das leis. Quanto ao que significa o tal Estado democrático de direito que tanto defendem.

Para muitos, o simples fato de – quem sabe! – o ex-presidente ter desejado um golpe de Estado, se não é crime, deveria ser. Isso sem falar nos filhos, no jeito de falar de Bolsonaro, nas atitudes e palavras dele durante a pandemia de Covid-19 e em tantos outros defeitos que podem ser cognitivos ou de caráter, mas não são crime. (E nem deveriam ser).

Ares de legalidade

Eis o estrago que a denúncia da PGR causou: deu ares de legalidade ao que é uma antipatia pela figura de Bolsonaro e por tudo o que ele representa. Algo como “se não gosto de Bolsonaro (ou dos filhos do Bolsonaro, ou dos bolsonaristas ou daqueles pobres-diabos que estão presos por causa do 8/1), então que se perverta a lei a fim de que ela puna a simples existência desse personagem”.

É isso que os jovens estão aprendendo e reproduzindo como se fosse uma lógica civilizacional aceitável. Por falar em jovens, a gente fica aqui discutindo entre adultos, homens de meia-idade e velhos, e se esquece dos jovens, muitos dos quais estão crescendo com a ideia de que o autoritarismo é válido se for para “botar ordem na casa”.

Racionalidade e conflagração

E não adianta usar os argumentos contidos no primoroso editorial desta Gazeta do Povo a respeito do caso. Em se tratando de Bolsonaro a racionalidade não tem vez – o que talvez seja compreensível e tenha menos a ver com o ex-presidente e mais com o espírito de um tempo reativo, impulsivo e sobretudo belicoso. Aliás, conversa vai, conversa bem, cheguei à conclusão nada brilhante de que é a esse desejo de destruição do outro que a denúncia da PGR apela.

Assim, a PGR garante a manutenção deste clima de guerra que paralisa e divide o Brasil: de um lado, aqueles que acham que têm razão; do outro, aqueles que não, cara, quem tem razão sou eu, seu petista/bolsomínion/isentão burro! E para quê? Pergunto e emendo: será que em algum momento alguém se sentou para se perguntar para quê? O que de bom pode sair disso?

Um país melhor

Porque, se fecho os olhos e imagino o país daqui a vinte ou trinta anos, não consigo antever um Brasil melhor porque Bolsonaro foi denunciado, condenado e preso por talvez – talvez! – ter cogitado um golpe de Estado. Não teria sido melhor apelar ao espírito conciliador da inação, deixar o passado como está e, assim, olhar o futuro com um mínimo de esperança de que haja paz?

Para mim, ao insistir na punição de Bolsonaro por ser quem ele é, e não pelo que tenha feito, e ao usar para isso um subterfúgio narrativo, Paulo Gonet perdeu e os ministros do STF perderão uma grande oportunidade de legar a seus filhos e netos um país melhor, onde em vez de vingança e de desejo de destruição do adversário as pessoas tenham por valor a defesa intransigente das leis e da dignidade.

Civilidade

Mesmo daqueles com os quais não concordamos ou pelos quais possamos nutrir algum tipo de ojeriza. Mesmo daqueles que, se estivessem no lugar de Gonet e dos demais ministros do STF, fariam o mesmo contra seus adversários de esquerda. Afinal, a disputa política só é realmente civilizada assim, entre pessoas que abominam a possibilidade de terem de se rebaixar ao nível dos bárbaros.

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