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‘Mudou minha carreira’, diz ator Marcos Breda sobre ‘Feliz Ano Velho’

“No dia 5 de dezembro de 1986 foi rodada a última cena de ‘Feliz Ano Velho’. E em 5 de dezembro deste ano, o filme reestreou aqui no Rio de Janeiro, em versão remasterizada. Há 30 anos eu não via o filme na tela grande”, diz o ator Marcos Breda, 64, protagonista de “Feliz Ano Velho” e com uma carreira de mais de 30 filmes, 30 novelas e programas de TV e mais 40 peças no teatro.

“Fui junto com meus moleques. Eles falaram ‘pô pai, é mó maneiro’. Aí eu olhei para o mais velho, e ele está exatamente com a idade do personagem, 22 anos. Foi muito emocionante”, conta Breda. “O mais velho se formou na PUC, em design gráfico. Ele trabalha com animação de cinema, veja só. E o caçula acabou o colégio, está fazendo vestibular para artes cênicas da UniRio. Que destino implacável.”

Para ir à reestreia, Breda desenterrou a camiseta da época do lançamento. “Coleciono camiseta de trabalhos importantes que eu fiz na vida, e essa camiseta estava muito bem guardada.”

Lançado em meados de 1988, “Feliz Ano Velho” foi dirigido por Roberto Gervitz, em adaptação livre do best-seller homônimo de Marcelo Rubens Paiva. Quatro décadas depois, Walter Salles dirigiu “Ainda Estou Aqui”, hoje cotado a melhor filme estrangeiro no Oscar 2025 e espécie de continuação autobiográfica do livro de 1982.

Para surfar no sucesso do longa de Salles, a rede CineSystem relançou neste mês “Feliz Ano Velho” em quatro capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília, em geral em sessões vespertinas. O filme, que segue em cartaz pelo menos até esta segunda (23), teve 261 espectadores em São Paulo na semana passada.

“O Roberto Gervitz não fez uma transposição literal do romance, ele criou uma história inspirada na história do Marcelo Paiva, mas com uma abordagem essencialmente psicanalítica”, relembra Marcos Breda, que ganhou um Kikito de melhor ator no festival de Gramado pelo filme.

“Claro que a política, claro que o sequestro e assassinato do Rubens Paiva, aparecem como pano de fundo. A própria Eunice Paiva, quem fazia no filme era a Eva Wilma, uma atriz extraordinária e ela fez maravilhosamente bem, uma Eunice Paiva do mesmo nível da Fernandona e da Fernanda Torres.”

No entanto, por causa dessa abordagem diferente, a personagem de Eva Wilma não leva o nome de Eunice Paiva. E nem Marcelo. “Meu personagem no filme se chama Mário e tem apenas uma irmã”, lembra hoje Rubens Paiva. O autor não acompanhou as filmagens na época, mas fez uma visita ao set. “Tem uma foto histórica, eu e ele, cada um numa cadeira de roda, um do lado do outro”, conta Breda.

O trabalho em “Feliz Ano Velho” foi um divisor de águas na vida de Marcos Breda, um gaúcho com uma carreira incipiente em Porto Alegre, mas que já havia feito cinema e até participado da sequência “Ana Terra” na minissérie “O Tempo e o Vento”, adaptação de Erico Veríssimo pela Rede Globo. Mas, conforme a famosa música dos também gaúchos Engenheiros do Hawaii, Breda estava “longe demais das capitais”

“Antes do filme, teve a peça, dirigida pelo Paulo Betti e com o Marcos Frota como o Marcelo. Rodou o Brasil inteiro e, em 1984, chegou a Porto Alegre. Nós fazíamos teatro e conhecíamos alguém da montagem. Entramos em contato, fizemos um churrasco para eles, foi um acontecimento.”

“Depois disso, o Roberto [Gervitz] fez uma porção de testes com vários atores do Brasil inteiro, e eu acabei selecionado para fazer o protagonista. Mudou minha carreira. Me obrigou a vir para São Paulo. Tempos depois, mudei novamente para o Rio, onde continuo até hoje”, conta. “Mas em São Paulo, dividi apartamento com o conterrâneo Caio Fernando Abreu, que trabalhava na editora Brasiliense.”

Em 1982, o livro do Rubens Paiva havia sido um dos primeiros lançamentos da coleção Cantadas Literárias, da Brasiliense. E o célebre “Morangos Mofados”, de Caio Fernando Abreu (1948-1996), também havia saído na mesma coleção e no mesmo ano. “Depois, em 2000, eu protagonizei o curta ‘Sargento Garcia’, baseado no conto homônimo de Caio que está em ‘Morangos Mofados’”, diz Breda.

“Caio foi um dos maiores amigos que eu tive na vida. Ele alugava um apartamento na Haddock Lobo, 959, apartamento 21”, conta Breda, com impressionante boa memória. “A gente mal se conhecia e ele falou assim, ‘Ué, você está procurando lugar para morar? Tem um quarto vago aqui, pode vir, vamos dividir apartamento’.”

“O telefone era 853-2441. Me lembro disso porque ele, pouco tempo depois, fez 40 anos e quis gravar uma mensagem na secretária eletrônica: ‘Você ligou para 853-2441, 40 anos, não quero a faca nem o queijo, quero a fome. Deixe recado após o sinal’. Que é uma citação da Adélia Prado, né? Isso é maravilhoso.” Marcos Breda, aliás, é formado na faculdade de Letras.

Caio foi ainda meu primeiro professor de astrologia, que é uma coisa que eu desde aquela época venho trabalhando. Neste próximo ano de 2025, eu completo 45 anos de carreira como ator e 40 anos como astrólogo”, revela. “Mas tudo isso começou lá naquela época.”

A ligação de Breda com a astrologia adquiriu importância durante a pandemia, quando trabalhos em cinema, teatro e TV foram adiados, mas as contas continuaram chegando. Apesar de fazer mapas astrais para amigos há décadas, ele não costumava cobrar pelo serviço. Até então.

“Aí eu bati nos bolsos do paletó e falei ‘De onde é que eu vou tirar?’ E pensei, ´Poxa, acho que eu vou assumir de vez. Em 15 de agosto de 2020, eu coloquei um flyer no meu Instagram oferecendo consultas astrológicas e, um mês depois, já estava com outro perfil chamado marcos_breda_astrologia. E de lá para cá foi como uma porta que abriu e eu não parei mais de trabalhar.”

“Sim, continuo fazendo até hoje. Nesses quatro anos e meio, já passei de 800 clientes. Eu trabalho loucamente com astrologia. Atendo praticamente todo dia. Aliás, hoje à tardinha eu tenho um cliente para atender. Amanhã eu tenho dois. Ontem eu tive um. Atendo todo dia, todo dia.”

Atualmente, Breda cobra cerca de R$ 600 por consulta feita por vídeo —na pandemia, eram R$ 300. Mas ele diz que negocia caso a caso, se a pessoa não puder pagar esse valor. Também grava pílulas algumas vezes por semana no Spotify, num podcast chamado 60 Segundos de Astrologia.

Antes de se formar em Letras, Marcos Breda cursou engenharia civil. Largou no quarto ano, para desespero de seu pai, ele conta. Mas o estudo de exatas foi muito importante para se tornar astrólogo naqueles tempos.

“O Caio me ensinou a desenhar, a calcular mapas. Não existia computador, não existia aplicativo, tudo era feito à mão e era complexo. Para você calcular e desenhar um mapa, demorava uma hora. Hoje em dia, você faz em cinco segundos.”

“É uma calculeira infernal, onde você pode facilmente se enganar, porque não são cálculos decimais; são cálculos sexagesimais. Tem que fazer uma conversão para poder calcular isso. E também fazer interpolação, porque os dados são do meridiano de Greenwich e você tem que trazer para o Brasil.”

É de se perguntar como um quase engenheiro civil, e ainda por cima amante da astronomia e astrofísica, pode acreditar que os astros influenciem a vida de terráqueos, mas Breda esclarece que esse modo de ver a coisa está errado.

“Astrologia não é uma ciência, ela é uma sabedoria, porque se baseia em outro tipo de premissa. Não é uma relação de causa e efeito. É uma relação de sincronicidade. O planeta X no céu, alinhado à constelação Y, ele não causa nada, ele não exerce efeito nenhum. Não é causa e efeito, é correspondência simbólica.”

“O céu é apenas um reflexo. Por exemplo, se eu olhar para o céu e ver que Marte está lá alinhado à constelação de Gêmeos, por exemplo. Isso não causa nada aqui na Terra. Mas se eu souber o que Marte significa em termos simbólicos e o que Gêmeos, por exemplo, significa em termos simbólicos, eu posso criar a hipótese, a possibilidade, a ilação, para usar um termo metido à besta, a probabilidade de que algo da mesma natureza simbólica está acontecendo simultaneamente aqui embaixo.”

“Então o mapa astral não descreve uma pessoa. O mapa descreve uma determinada configuração simbólica no céu do qual a pessoa é o reflexo existencial a nível humano. O que estou querendo dizer é como se céu e terra fossem dois espelhos que se refletem mutuamente. Uma coisa não causa a outra. Uma coisa costuma acontecer acompanhado da outra. Esse é o raciocínio que embasa a astrologia.”

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