A mulher do ex-presidente do Peru Ollanta Humala, Nadine Heredia, pediu asilo ao Brasil nesta terça (15).
Ela entrou na embaixada do país em Lima e aguarda um salvo conduto do governo do Peru para poder viajar ao Brasil.
O presidente Lula analisa o pedido e deve tomar a decisão nas próximas horas. A tendência é a de que ele conceda o asilo.
A ex-primeira-dama e o marido foram condenados a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro no caso de aportes ilegais da empreiteira brasileira Odebrecht e da Venezuela para suas campanhas de 2011 e 2006, respectivamente.
O ex-presidente decidiu cumprir a pena de prisão. E pediu que sua mulher tentasse o asilo no Brasil.
Nadine resistia, mas Ollanta Humala argumentou que ela não havia sequer obtido autorização para viajar ao Brasil e tratar de um câncer enquanto respondia ao processo. Presa, correria o risco de nunca mais sair do cárcere.
O casal tem três filhos, e ele fez um apelo para que ela então tentasse ficar livre, segundo relatos de interlocutores de ambos.
A sentença encerra mais de três anos de audiências contra o ex-líder de centro-esquerda que governou o Peru de 2011 a 2016. Humala, 62, aguardou a sentença final em liberdade.
O ex-presidente, uma das principais lideranças de centro-esquerda do Peru, cumprirá sua pena em uma base policial construída especialmente para abrigar os líderes presos do país.
Sua prisão entrará em vigor imediatamente, ainda que o tribunal deverá continuar a ler a sentença completa nos próximos dias. A defesa de Humala afirmou que vai recorrer da decisão.
A Odebrecht, cujo escândalo de subornos e corrupção teve consequências em vários países da América Latina, reconheceu em 2016 que pagou dezenas de milhões de dólares em propinas e doações eleitorais ilegais no Peru desde o início do século 21.
“Não foi provado que entrou dinheiro da Venezuela em 2006, e nunca se corroborou que entrou dinheiro da Odebrecht em 2011″, afirmou o advogado de Humala, Wilfredo Pedraza.
O advogado brasileiro Marco Aurélio de Carvalho foi contratado para se incorporar à defesa de Humala, já que o caso tem conexões com empresas brasileiras.
“As condenações do ex-presidente peruano e de sua esposa carecem de provas e foram lastreadas por uma única delação que já é inclusive objeto de dúvidas e polêmicas no próprio Peru”, afirma ele.
“Há paralelos indiscutíveis entre o caso de Ollanta Humala e os de Lula no Brasil. Delegações peruanas estiveram no Brasil para mostrar semelhanças no processo, e nós confirmamos que de fato os procedimentos são rigorosamente iguais. Os promotores e os juízes de lá, infelizmente, adotaram os mesmos métodos ilegais do ex-juiz Sergio Moro e dos promotores da Operação Lava Jato. Estas atuações ilícitas, como as que ensejaram a anulação das condenações de Lula pelo Supremo Tribunal Federal, serão anuladas pela justiça peruana. Ollanta Humala é inocente”, segue.
O Ministério Público acusou o ex-presidente peruano de lavagem de ativos por ocultar o recebimento de US$ 3 milhões da Odebrecht para a campanha de 2011 que o levou à Presidência.
Nadine Heredia, esposa de Humala, também foi acusada por ser cofundadora da legenda Partido Nacionalista. Ela não compareceu ao julgamento, argumentando motivos de saúde.
A juíza Nayko Coronado emitiu ordem de captura contra a ex-primeira-dama, e no início da tarde policiais cercavam sua casa para cumprir a determinação, mas seu paradeiro até então era desconhecido.
Segundo a acusação, na campanha derrotada de 2006, o casal teria desviado quase US$ 200 mil enviados pelo então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, por meio de uma empresa do país.
O Ministério Público havia pedido 20 anos de prisão para Humala e 26 anos para Heredia —ambos também foram acusados de ocultação de fundos por “compras de imóveis com dinheiro da Odebrecht“.
O casal nega ter recebido dinheiro de Chávez ou de qualquer empresa brasileira.
No caso da Venezuela, segundo a Promotoria, o dinheiro foi enviado “pelo falecido ex-presidente Hugo Chávez por transferências bancárias com a empresa de investimentos Kayzamak”.
Humala é o segundo de quatro ex-presidentes envolvidos no esquema de corrupção da Odebrecht no Peru. Segundo o Ministério Público, o escândalo também envolveu Alan García (2006-2011), que se suicidou em 2019 antes de ser detido; Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), ainda sob investigação, e Alejandro Toledo (2001-2006). Toledo foi condenado em 2024 a mais de 20 anos de prisão por receber subornos milionários em troca da concessão de obras em seu governo.