O estado crítico atual do catolicismo francês

Um Observatório Francês do Catolicismo (OFC) foi criado no início de junho. Dirigido por Aurélie Pirillo, espera preencher uma lacuna: a falta de dados confiáveis, precisos e relevantes sobre o catolicismo francês.

Seu objetivo é publicar regularmente estudos quantitativos e qualitativos para permitir que todos possamos compreender melhor a situação e a realidade do catolicismo na França.

Da forma como funciona hoje, o OFC pretende unir várias forças: por um lado, católicos que conhecem a complexa prática do catolicismo francês, bem como as questões e os desafios que se colocam com maior relevância aos crentes e que mais necessitam da ajuda de uma instituição deste tipo; por outro lado, profissionais renomados na arte de realizar pesquisas, como Jérôme Fourquet, que aplicam seu know-how para realizar estudos rigorosos.

O OFC pretende, por exemplo, publicar nos próximos meses um estudo detalhado sobre a tipologia dos católicos praticantes e outro sobre os fatores de conversão.

Por iniciativa do OFC, o IFOP (Instituto Francês de Opinião Pública), sob a liderança de Jérôme Fourquet, publicou no mês passado uma grande pesquisa sobre como nossos contemporâneos percebem o catolicismo.

Uma situação crítica que se confirma

Os números coletados objetivam e confirmam, em parte, grandes tendências que já não são motivo de surpresa e que corroboram a percepção intuitiva da situação, uma situação bastante crítica para o catolicismo.

Assim, a França tornou-se um país onde a maioria já não acredita em Deus: apenas 41% dos franceses acreditam em Deus, contra 56% em 2011 e 66% em 1947.

Dos franceses que acreditam são 46% que se posicionam como “pertencentes ao catolicismo”, muito à frente dos 4% de muçulmanos que formam o segundo grupo religioso do país — mas o número cai drasticamente para 23% se considerarmos a amostra de 18 a 24 anos.

Além da afiliação declarada, se considerarmos a prática, os números caem ainda mais: 5% vão à missa “todos os domingos ou mais” e 21% vão “algumas vezes por ano”. E se 76% dos franceses são batizados, a pirâmide etária revela muito, pois apenas 42% dos jovens entre 18 e 24 anos o são.

Pior ainda, entre as pessoas batizadas, apenas 61% têm a intenção de batizar seus filhos. 61%. Esse número dá o que pensar. Por si só, ele nos indica o que poderia ser uma prioridade da Igreja hoje: dedicar toda a sua energia para tornar esses 61% em 100%, para fortalecer a fé das pessoas que já receberam o batismo e passaram pela Igreja.

É aí, nomeadamente, que se joga o futuro das grandes massas. 61%. Este número confirma que a crise da transmissão da fé não é apenas uma realidade do passado e que os números muito animadores do aumento dos batismos de adultos estão muito longe de compensar a perda das crianças não batizadas.

Outro fato revelador: as discussões relacionadas à religião estão se tornando cada vez mais raras; 32% dos franceses “discutem frequentemente ou de vez em quando sobre religião” quando estão com a família e 26% quando estão com os amigos.

Um número que pode ser facilmente relacionado ao fenômeno de desculturação do catolicismo que a França está atravessando: aos olhos de muitos, o catolicismo não ocupa mais um lugar central, e muitos de seus cidadãos crescem e vivem na França sem ter nenhuma relação pessoal com o catolicismo, sem conhecer seus fundamentos, sua linguagem, seus códigos, sua história, seus grandes pilares teológicos e antropológicos.

Dos franceses, 54% declaram ter “tido contato nos últimos doze meses com a Igreja Católica e/ou com pessoas católicas”; 29% “por meio de um evento religioso em uma igreja”, 18% “por meio da visita turística a um edifício católico” e… apenas 3% por meio do ensino católico. Se se estima em cerca de 7% da população total os pais de crianças atualmente matriculadas no ensino católico, esse número de 3% é uma admissão de fracasso e um novo sinal de alarme.

Outro sinal dos tempos, que pode ser interpretado tanto como uma herança das antigas batalhas anticlericais francesas quanto como uma reação aos numerosos debates sobre o islamismo: 54% dos franceses “consideram que o espaço público deve permanecer neutro em relação a qualquer manifestação religiosa”, enquanto 34% “consideram que a expressão da crença religiosa por um indivíduo é legítima no espaço público” e 12% não se pronunciam sobre o assunto.

Além disso, se cerca de 70% dos franceses pensam que a Igreja deve continuar a intervir em temas como o acompanhamento de doentes e moribundos, o apoio espiritual nas provações, a solidariedade e a luta contra a exclusão, há uma queda quando se trata de assuntos menos consensuais: são bem menos numerosos os que acham que a Igreja deve continuar a intervir na educação dos jovens (47%), na defesa da vida humana (36%) ou na transição ecológica (36%).

Por fim, os escândalos em torno dos abusos sexuais deixaram sua marca, e a imagem dos padres, em particular, se deteriorou nos últimos anos: assim, apenas 52% dos franceses os consideram “dignos de confiança”, um número que caiu 16 pontos em relação ao ano não tão distante de 2017.

Sementes de esperança

Mas este estudo, embora confirme em grande parte a secularização avançada da França, também chama nossa atenção para sinais de esperança e indícios que nos impedem de cair no pessimismo radical, ecoando o que Leão XIV escreveu aos bispos franceses em junho passado: “Esta herança cristã ainda vos pertence, ainda impregna profundamente a vossa cultura e permanece viva em muitos corações”.

Alguns números revelam, por exemplo, a sede espiritual de muitos compatriotas, mostrando aos nossos olhos a multidão de pessoas que um olhar sobrenatural pode considerar já ávidas por encontrar Cristo e alimentar suas almas com sua Revelação.

Assim, 52% dos franceses declaram rezar ou meditar (essencialmente pela saúde de seus entes queridos ou pela sua própria), 37% dos franceses dizem estar em busca espiritual e 15% dos não batizados já pensaram em batizar seus filhos.

Mesmo que isso nem sempre se traduza em ações, o fato de quase metade do país se declarar católico tende a mostrar que a sociedade francesa está mais consciente de suas “raízes cristãs”, de sua herança religiosa, e mais tranquila em relação a ela do que os debates políticos podem sugerir.

E 69% dos franceses têm uma boa opinião dos católicos, número que cai para 53% quando a questão se refere à Igreja Católica, e não aos fiéis individualmente. Mas 60% dos jovens de 18 a 24 anos têm uma boa opinião da Igreja Católica, contra 49% dos maiores de 65 anos: muitas vezes mais ignorantes sobre a realidade religiosa, as gerações mais jovens também costumam ter uma disposição mais favorável em relação à instituição, não tendo contas a acertar com ela. É também entre elas que os abusos sexuais têm menos impacto na imagem que têm da Igreja.

Este estudo parece também reforçar a ideia — difícil de confirmar definitivamente, pois implicaria sondar os corações — de que os católicos que assistem à missa todos os domingos são cada vez mais fervorosos: dois terços deles dizem ir “o mais frequentemente possível”, enquanto o terço restante vai “apenas” aos domingos.

A pesquisa destaca alguns “pontos de contato” entre os franceses e o catolicismo: 59% deles têm cristãos praticantes em sua família ou entre seus amigos, e 58% entraram em uma igreja no último ano. São pistas a serem exploradas quando se reflete sobre as formas mais pertinentes de divulgar a mensagem de Cristo.

Por fim, mais da metade dos franceses (55%) acredita que “a Igreja deve promover e defender seus valores, mesmo que às vezes eles estejam em desacordo com as mudanças ocorridas na sociedade e nos costumes”: um incentivo para continuar sendo sinal de contradição e sal da terra?

Uma realidade a ser melhor compreendida

É possível ter objeções à coleta de todos esses dados afirmando que a fé e os números não combinam bem, que a ação da graça ou o íntimo das almas não se deixam encerrar em perguntas simples e algumas estatísticas, que se aprende muito pouco sobre a situação de fundo do catolicismo olhando para algumas percentagens, que não se estuda uma religião como se disseca uma mosca, que não se parte para evangelizar como se atacaria o mercado de iogurtes naturais.

É verdade.

Mas, uma vez tomadas essas precauções, convém definir o objetivo deste Observatório do Catolicismo, que é modesto, mas tão urgente: conhecer melhor a realidade social do catolicismo e encará-la de frente, compreender o que, nele, pode ser conhecido pelas ferramentas da estatística, disponibilizar aos atores religiosos, leigos ou políticos dados confiáveis, objetivos e sistemáticos, dissipar certas impressões falsas e certos clichês que se tornaram inexatos, examinar as dinâmicas, as tendências, os sinais, para estarmos menos desamparados quando tentamos descrever o catolicismo, quando tentamos compreender o que resta de sua influência, caracterizar seu papel hoje, entender como nossos concidadãos o veem, ou alimentar nossa imaginação para a missão.

Élisabeth Geffroy é professora de Filosofia, formada na École normale supérieure de Paris.

© 2025 La Nef. Publicado com permissão. Original em francês: “Chiffres détaillés sur le catholicisme français et création d’un Observatoire”.

VEJA MAIS

Câmera mostra carro desgovernado invadindo restaurante no PR; assista

Um carro invadiu a entrada do Restaurante Guanabara, em Curitiba, na manhã deste domingo (13)…

Vacinas contra Covid-19 devem avisar sobre miocardite, diz agência dos EUA

A Administração de Drogas e Alimentos (FDA), agência sanitária dos Estados Unidos, atualizou no mês…