A formação de um sistema planetário pode ser como a queda de uma fileira de dominós –o primeiro planeta a se formar induz a formação do próximo, que puxa a do seguinte, e assim vai. Pelo menos é o que sugere um trabalho realizado por uma equipe internacional de astrônomos liderados por Kiyoaki Doi, pesquisador japonês trabalhando no Instituto Max Planck para Astronomia, na Alemanha.
A revelação vem do estudo de um sistema jovem em formação conhecido como PDS 70, localizado a 367 anos-luz daqui, na constelação do Centauro. De certa forma, é um sistema planetário brasileiro, já que o catálogo PDS, que deu nome à estrela, corresponde a Pico dos Dias Survey, pesquisa de varredura de astros jovens feita no Observatório do Pico dos Dias, em Minas Gerais, nos anos 1980.
O PDS 70 ganhou fama recente graças ao poder de observação do conjunto de radiotelescópios Alma e do VLT (sigla para Telescópio Muito Grande), ambos instalados nos Andes chilenos. Um disco de gás e poeira circundando a estrela pôde ser observado e em 2018 foi possível até fazer uma imagem direta de um dos dois planetas sabidamente já formados lá.
É, portanto, um alvo ideal para a observação de um sistema planetário que está em pleno processo de formação. Para os novos resultados, a equipe liderada por Doi mais uma vez lançou mão do Alma, desta vez por meio da captação de ondas de rádio, que mais facilmente permitem a visualização do ambiente empoeirado em torno da estrela.
As novas observações mostram uma concentração de grãos de poeira na região noroeste do anel que existe além das órbitas dos dois planetas conhecidos. A localização desse aglomerado de material sugere que os planetas já formados interagem com o disco e promovem a concentração de grãos de poeira em uma região estreita além de suas órbitas –esse material acabará se aglutinando e crescendo para formar um novo planeta.
O trabalho, publicado no periódico Astrophysical Journal Letters, corrobora a hipótese de que a formação de planetas em um sistema como o nosso pode ocorrer de forma sequencial, de dentro para fora, pela repetição desse processo. É a tal fileira de dominós, um derrubado após o outro.
A ideia de que os planetas mais internos são mais velhos e os mais externos são mais novos já circula nos meios científicos há mais de século. Em uma época romântica, mais especulativa, no fim do século 19, o astrônomo Percival Lowell chegou a explicar que a civilização que ele acreditava ver ao telescópio em Marte estava já em um estágio moribundo pelo fato de o planeta vermelho, sendo o quarto a contar do Sol, ser mais antigo que a Terra, o terceiro.
Hoje, sabemos que 100% dessa ideia está errada. Nem há uma civilização marciana decadente, nem Marte é consideravelmente mais antigo que a Terra. Ainda que os planetas tenham se formato numa cascata de dominós por aqui, como parece ocorrer em PDS 70, todo esse processo foi extraordinariamente rápido pelos padrões astronômicos, medido em uns poucos milhões de anos. O Sistema Solar tem hoje cerca de 4,6 bilhões de anos
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.
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