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Quando a nostalgia vence a lacração: a volta do “pele-vermelha” à liga do futebol americano 

O moralismo da cultura woke não poupa nem o futebol americano, um dos últimos refúgios da diversão despretensiosa. Mas a militância identitária também tem recebido alguns choques de realidade, como na reviravolta que vem acontecendo nos bastidores do time Washington Commanders.

Para quem não ligou o nome à equipe, o Commanders é o antigo Redskins, praticamente uma instituição do esporte mais popular dos Estados Unidos. Fundado em 1932 como Boston Braves, a franquia adotou a alcunha de “peles-vermelhas” cinco anos depois, quando se transferiu para a capital do país.

Desde então, há quem questione sua marca e seu escudo — criado em 1972 e que traz a figura de John Two Guns White Calf (1872–1934), chefe da nação indígena Blackfeet. Para os defensores dos direitos dos povos nativo-americanos, trata-se de uma apropriação cultural desrespeitosa e racista. 

Com o advento da era do politicamente correto, a crítica se transformou numa intensa campanha. Até que em 2020, na esteira da comoção em torno do assassinato de George Floyd, um conjunto de patrocinadores de peso ameaçou cortar suas relações comerciais com o time caso a denominação Redskins fosse mantida. 

Mesmo sob protestos da torcida, os dirigentes cederam à pressão e destruíram uma tradição de mais de 80 anos. Num primeiro momento, houve uma mudança temporária para Washington Football Team. Após duas temporadas, e uma milionária campanha de marketing, a equipe adotou a identidade de Commanders. 

Acontece que uma parte importante envolvida nessa história sequer foi ouvida durante todo o processo: os descendentes do chefe pele-vermelha.  

Em setembro deste ano, uma ala da família de Two Guns veio a público para reivindicar o retorno da imagem de seu antepassado ao imaginário da franquia. Representante desse grupo, Thomas White Calf (sobrinho-neto do icônico líder indígena) tem dado entrevistas afirmando que o desenho era uma homenagem e tinha muito valor para sua comunidade.

“Nosso ancestral foi o nativo mais famoso e mais fotografado dos EUA. Sua imagem representa um tributo às populações nativo-americanas, exaltando valores como força e coragem”, disse à emissora Fox News.

“Os fãs o querem de volta. E nós também”, completou White Calf, que ainda acusa os ativistas identitários de tirar o foco de questões realmente urgentes para os povos indígenas, como saúde, habitação e educação.

Já os militantes, entre eles membros da própria Nação Black Feet, sugerem que os parentes de Two Guns estão causando essa celeuma para, no futuro, embolsar algum dinheiro com direitos de imagem.

Equipamento com a logo dos Washington Commanders: time cedeu à pressão da militância woke. (Foto: Divulgação/commanders.com)

Senador entrou em cena para apoiar família do chefe indígena

Atento ao embate ideológico, o senador republicano Steve Daines decidiu intervir. 

Representante do estado de Montana e membro do Comitê de Assuntos Indígenas do Congresso dos EUA, ele inicialmente usou suas redes sociais para denunciar que algumas redes de tevê estavam borrando o escudo do time quando mostravam registros de jogos antigos. 

Em seguida, passou a insistir pela volta do logotipo à NFL (a liga profissional de futebol americano). “É uma questão de consertar um erro”, disse Daines. 

“A imagem de Two Guns é um motivo de orgulho e representa a rica história dos nativos americanos, que ajudaram a tornar nossa nação grande. Por isso deve ser celebrada com entusiasmo em toda a nossa cultura.” 

Por fim, prometeu bloquear um financiamento público voltado à revitalização do estádio para onde a equipe planeja se mudar e mandar seus jogos — “Até que a NFL e os Commanders honrem o escudo”. 

Encurralado, o grupo de investidores que comprou a franquia em 2023 divulgou em um comunicado que iria “colaborar com o senador Daines, para honrar o legado de nossa equipe e da comunidade nativa-americana”. 

A saída para o imbróglio não poderia ser mais capitalista: apelar para a nostalgia, sempre uma fonte de lucros. 

Em parceria com os herdeiros do artista Walter “Blackie” Wetzel, criador da marca na década de 1970, os Commanders anunciaram uma espécie de retorno parcial do logotipo, a ser usado exclusivamente numa linha de produtos em reverência a antigos ídolos da época dos Redskins. 

E não é que funcionou? Satisfeito com os esforços empreendidos pelo time, Steve Daines destravou o financiamento tão esperado pelos investidores. Já os familiares de Two Guns, pelo menos por hora, também se sentiram vitoriosos.

Mesmo os ativistas woke não espernearam. Mais preocupados em “causar”, acabaram confundidos por uma esperta ação de marketing disfarçada de reparação história.

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