Em tempos de guerra cultural, quando símbolos falam mais do que ações, um objeto aparentemente inofensivo tem se tornado alvo de idolatria: o livro. Por isso o “Última Análise” desta sexta (11) pergunta: será que a leitura e esse objeto mágico que é o livro se tornaram uma forma de ostentação, vazia como todas as formas de ostentação?
O programa parte de uma observação simples, mas provocadora. Livros hoje são comprados muitas vezes não para serem lidos, mas exibidos. Estantes milimetricamente organizadas, capas duras com acabamento de luxo, traduções renomadas — tudo compõe um cenário que serve mais à imagem do que à substância. E nesse cenário, a figura do “intelectual de Instagram” ganha protagonismo, sem necessariamente ter ideias a compartilhar.
Best-sellers
É preciso separar o leitor genuíno do colecionador de capas. Se bem que o leitor genuíno pode ser pior do que o colecionador de capas. Afinal, muitos dos maiores canalhas e assassinos do mundo, como Stalin e Mao, foram também grandes leitores. O livro, por tanto, por si só não forma caráter. A leitura, se não for acompanhada de discernimento, humildade e ação, serve apenas para inflar o ego e embotar o juízo de quem lê.
O “Última Análise” também aborda o papel das editoras na construção desse fetiche em torno do livro. O cuidado com o design gráfico parece, muitas vezes, suplantar a preocupação com o conteúdo. O resultado é uma indústria que publica para vender e vende para enfeitar. A crítica se estende ao fenômeno dos best-sellers, que usam o faturamento como defesa da qualidade artística.
Tem política, sim senhor
Sim, o programa também analisa o livro, a literatura e o mercado editorial do ponto de vista político e ideológico. Porque a direita, que por décadas esteve afastada do universo editorial, agora tenta recuperar o tempo perdido. Mas será que está fazendo isso da forma certa? O “Última Análise” se há, de fato, uma vocação para a leitura no campo conservador ou se trata apenas de uma resposta apressada ao domínio esquerdista da produção intelectual.
Entre provocações e reflexões, o “Última Análise” convida o espectador a repensar o próprio papel como leitor. O livro deve ser ferramenta de transformação pessoal, não ornamento cultural muito menos um elemento de identidade política. E conclama o espectador conservador a buscar não só a cultura pela cultura, e sim a coerência, a coragem e o compromisso com a verdade que podem advir dessa cultura.